sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pesquisas revelam descrédito da grande imprensa e da oposição

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Por Eduardo Guimarães, em seu blog
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Na semana que termina, foram divulgadas duas pesquisas de opinião que permitem conclusões que vão além daquilo que pretenderam apurar. Uma delas foi feita pelo Instituto Análise, do sociólogo Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça de Eleitor, e a outra é de autoria do sociólogo tucano Antonio Lavareda.
Ambas revelam um quadro desalentador para uma oposição que, a despeito de contar com um apoio propagandístico e estratégico da grande imprensa que dispensa maiores comentários, há quase uma década vem fracassando em voltar a ser uma real alternativa de poder, aos olhos da população.
O que mais chama atenção é a resiliência da popularidade do ex-presidente Lula. Nove meses após deixar o poder, período durante o qual tem sofrido uma campanha negativa na imprensa ainda maior do que a que permeou seus dois mandatos, e ainda não tendo mais os meios de se manifestar que a Presidência da República concede naturalmente aos seus ocupantes, sua popularidade está mais forte do que nunca.
A pesquisa do instituto Análise mostra que, após oito meses (foi fechada em agosto) de governo Dilma, a boa lembrança de Lula continua intacta entre o eleitorado e influenciando decisivamente o jogo político e eleitoral. Para Alberto Almeida, coordenador do instituto, um dos dados que chamam mais atenção é a permanência da popularidade de Lula – o que o torna um fator de extremo desequilíbrio no jogo presidencial.
Durante o seu governo, Lula alcançou 80% de aprovação (ótimo + bom). Agora, com a artilharia da mídia contra si, as teses sobre “herança maldita”, as “marchas contra a corrupção” convocadas pela mídia e que visam seu período de governo, a aprovação do ex-presidente subiu e chegou a 82%. Segundo Almeida, “Isso significa que o eleitorado está com saudades de Lula”.
Ironicamente, a pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico revela ainda um fato que, analisado pelo prisma correto, mostra que a grande imprensa, além de não ter credibilidade para desmoralizar Lula, pode estar reduzindo a popularidade da presidente Dilma com sua tentativa de forjar uma suposta ruptura política e administrativa de seu governo com o de seu padrinho político.
A aprovação ao governo Dilma é exatamente a metade da de seu antecessor: 41% de  “ótimo” e “bom”. E enquanto 3% dos entrevistados consideram que Lula foi ruim ou péssimo, 16% avaliam Dilma como tal. Nesse aspecto, as tentativas da presidente de tentar manter uma relação civilizada com a imprensa podem estar sendo vistas como “traição”.
A pesquisa também mostra que o governo Lula se tornou medida de comparação para o povo. Os que aprovam a administração Dilma Rousseff justificam a opinião com a percepção que têm de que a presidente está “dando continuidade ao que o Lula fez”.
Para os que previsivelmente dirão que a pesquisa do instituto análise é “comprada”, que o instituto é “petista” etc., vale analisar pesquisa levada a cabo pelo cientista político tucano Antonio Lavareda, pesquisa que, na semana que termina, pôs o PSDB em pânico.
Caciques tucanos se insurgiram contra a divulgação da pesquisa devido ao quadro tétrico que revelou, pois confirma todos os dados da pesquisa do instituto análise e mais alguns outros, todos altamente negativos para a oposição. Revela que, hoje, tanto José Serra quanto Aécio Neves não teriam a menor chance numa disputa com Dilma e muito menos com Lula.
Por fim, o PT pode dormir tranqüilo por conta da forma como o alto escalão tucano avaliou a pesquisa de Lavareda. Ao menos na visão do presidente do partido, Sergio Guerra, os tucanos devem insistir nas táticas de luta pelo poder que permearam a década passada.
Em primeiro lugar, a idéia “brilhante” dos tucanos é a de insistir ainda mais na teoria de que tudo que Lula realizou se deve ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Julgam que, apesar de a grande imprensa repetir essa teoria há quase 10 anos, ela ainda não se fixou na mente do eleitorado porque nas campanhas eleitorais o ex-presidente costuma ser “escondido” pelo seu partido.
A avaliação tucana não debita essa ocultação de FHC pelos seus pares à péssima lembrança que seu governo deixou nos brasileiros e que foi a responsável pela tentativa praticamente desesperada de votarem no enigma Lula em 2002, buscando como que uma última alternativa para um país que parecia não ter jeito antes de o PT chegar ao poder.
Por absurdo que pareça, a interpretação da oposição declarada e da dissimulada é a de que FHC só não desfruta de bom conceito por conta de não ser suficientemente exaltado e, assim, imprensa e oposição partidária podem passar a empreender uma forte campanha pela reabilitação de seu “legado”.
E não fica só nisso, o delírio conservador. Devido ao grande “sucesso” das campanhas moralistas que a direita empreendeu contra o governo Lula e que continua empreendendo contra o governo Dilma, a avaliação do presidente do PSDB e da parcela do partido que o apóia é a de que se deve insistir ainda mais na criminalização do PT e do ex-presidente Lula.
É possível prever, assim, que, nos próximos meses, oposição e mídia devem intensificar o denuncismo contra o legado de Lula e contra o governo Dilma, bem como a exaltação da era FHC e a difusão da tese de que tudo que está acontecendo de bom hoje no país se deve a um governo que terminou, em 2002, sob forte desaprovação da sociedade.
Dilma, Lula e o PT deveriam agradecer aos adversários. Se bobear, ainda farão com que Lula seja canonizado.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

UM ARGENTINO POR NÓS

DO DIRETO DA REDAÇÃO

A elite miserável do Brasil
Urariano Mota

Recife (PE) - No dia em que Lula recebeu o título de doutor honoris causa na França, o diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, Ruchard Descoings, chamou a imprensa para uma coletiva. É claro que jornalistas do Brasil não poderiam faltar, porque se tratava de um ilustre brasileiro a receber a honra, pois não? Pois sim, deem uma olhada no que escreveu Martín Granovsky, um argentino que honra a profissão, no jornal Página 12. Para dizer o mínimo, a participação de “nossos” patrícios foi de encher de vergonha. Seleciono alguns momentos do brilhante artigo de Martín, Escravistas contra Lula:

“Para escutar Descoings foram chamados vários colegas brasileiros... Um deles perguntou se era o caso de premiar quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado. Talvez Descoings soubesse que essa declaração de Lula não consta em atas, embora seja certo que Lula não tenha um título universitário. Também é certo que quando assumiu a presidência, em primeiro de janeiro de 2003, levantou o diploma que é dado aos presidentes do Brasil e disse: ‘Uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria de presidente da República’. E chorou.

‘Por que premiam um presidente que tolerou a corrupção?’, foi a pergunta seguinte. Outro colega brasileiro perguntou se era bom premiar alguém que uma vez chamou de ‘irmão’ a Muamar Khadafi. Outro, ainda, perguntou com ironia se o Honoris Causa de Lula era parte da política de ação afirmativa do Sciences Po.

Descoings o observou com atenção antes de responder. ‘As elites não são apenas escolares ou sociais’, disse. ‘Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas’ ”.

Houve todas essas intervenções estúpidas e deprimentes. Agora, penso que cabem duas ou três coisas para reflexão. A primeira delas é a educação de Lula. Esse homem, chamado mais de uma vez pela imprensa brasileira de apedeuta, quando o queriam chamar, de modo mais simples, de analfabeto, burro, jumento nordestino, possui uma educação que raros ou nenhum doutor possui. Se os nossos chefes de redação lessem alguma coisa além das orelhas dos livros da moda, saberiam de um pedagogo de nome Paulo Freire, que iluminou o mundo ao observar que o homem do povo é culto, até mesmo quando não sabe ler. Um escândalo, já veem. Mas esse ainda não é o ponto. Nem vem ao caso citar Máximo Górki em Minhas Universidades, quando narrou o conhecimento que recebeu da vida mais rude.

Fiquemos na educação de Lula, este é o ponto. Será que a miserável elite do Brasil não percebe que o ex-presidente se formou nas lutas e relações sindicais? Será que não notam a fecundação que ele recebeu de intelectuais de esquerda em seu espírito de homem combativo? Não, não sabem e nem veem que a presidência de imenso sindicato de metalúrgicos é uma universidade política, digna dos mais estudiosos doutores. Preferem insistir que a maior liderança da democracia das Américas nunca passou num vestibular, nem, o que é pior, defendeu tese recheada de citações dos teóricos em vigor. Preferem testar essa criação brasileira como se falassem a um estudante em provas. Como nesta passagem, lembrada por Lula em discurso:

"Me lembro, como se fosse hoje, quando eu estava almoçando na Folha de São Paulo. O diretor da Folha de São Paulo perguntou pra mim: ‘O senhor fala inglês? Como é que o senhor vai governar o Brasil se o senhor não fala inglês?’... E eu falei pra ele: alguém já perguntou se Bill Clinton fala português? Eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar português!... Era eu, o subalterno, o colonizado, que tinha que falar inglês, e não Bill Clinton o português!’
O jornalista argentino Martín Granovsky observa ao fim que um trabalhador não poderia ser presidente. Que no Brasil a Casa Grande sempre esteve reservada para os proprietários de terra e de escravos. Que dirá a ocupação do Palácio do Planalto. Lembro que diziam, na primeira campanha de Lula para a presidência, que dona Marisa estava apreensiva, porque não sabia como varrer um palácio tão grande....Imaginem agora o ex-servo, depois de sentar a bunda por duas vezes no Planalto, virar Doutor na França. O mundo vai acabar.

O povo espera que não demore vir abaixo.

Sobre o autor deste artigoUrariano Mota - RecifeÉ pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo.

domingo, 25 de setembro de 2011

A TURMA DO CANSEI (PiG) NÃO SABE FAZER CONTA

DO TIJOLAÇO


José Antonio Meira da Rocha, leitor deste blog e autor do blog O Homem que Calculava nos traz uma belíssima contribuição sobre a discussão sobre carga tributária brasileira, que nossa imprensa quase sempre trata como um escândalo, mas jamais no que ela mais tem de escandaloso, que é estar concentrada na parcela mais pobre da população.
Bem, o José Antonio compilou os dados da Heritage, uma fundação americana, sobre impostos e PIB e fez uma tabela que eu transformei em gráfico, aí ao lado, com países selecionados, para você comparar. No blog O Homem que Calculava – como o Malba Tahan faz falta aos nossos jornalistas! – você verá ainda que o Brasil, que é o 31º na relação tributos/PIB é o 51º primeiro se essa proporção é entre PIB per capita e arracadação tributária.
O pessoal do “Cansei”, recomenda o José Antonio, que fala tanto em corrupção, deveria se tocar da sonegação que, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) relativas a 2008, desvia do Tesouro, anualmente, cerca de 200 bilhões de reais. Tá na Veja mas, é claro, nunca dá capa.
Taí uma idéia: porque, ao lado do impostômetro, os “cansados” não criam o “sonegômetro”.

Em busca da razão perdida

Via Conversa Afiada

Santayana está em busca
da santa loucura



São Francisco, de Bellini (Frick Collection): os Iluministas chamavam de Razão

Conversa Afiada reproduz dois textos de Mauro Santayana, extraídos do JB:

Em busca da razão perdida (2)


As grandes revoluções humanas não surgem espontaneamente. Elas, de certa forma, existem como possibilidade desde o início da História, mas são contidas pelas forças reacionárias. As idéias que as suscitam permanecem latentes, na obra de um ou outro pensador, seja nos ensaios, no teatro, nas narrativas épicas ou na poesia. Em alguns momentos, ganham força, mediante a discussão e o debate, e triunfam, mesmo que, algumas vezes, de forma efêmera.


As idéias, sem embargo de sua energia própria, dependem da ação. Os intelectuais, dizia, sem muita justiça, um dos precursores do Iluminismo, Erasmo de Rotterdam, são naturalmente medrosos. Isso só é válido para uma minoria, e de menor dimensão. A regra tem sido outra. Foram numerosos os homens de pensamento que tombaram em pleno combate, nas prisões ou nas terríveis condições da clandestinidade. Sem ir longe no passado, o século 20 foi exemplar nessa necessidade da inteligência em se fazer ação, como ocorreu na  na memorável resistência contra os nazistas, os fascistas e os franquistas – e na luta pela autodeterminação dos povos contra o totalitarismo imperialista. A política é a práxis da razão, e, sem ela, o pensamento permanece encapsulado na teoria, ou, seja, na contemplação.


O grande motor do século 19, o do fulgor do Iluminismo, foi L’Enciclopédie, Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers. Tratou-se de uma empresa, que nasceu com o interesse comercial de editores franceses – chefiados pelo maior deles, na época, Le Breton – empenhados na tradução da Cyclopaedia, dicionário universal inglês de Ephraim Chambers. Le Breton convidou D’Alembert e Diderot para a tarefa. Ambos entenderam que não bastava a tradução de um dicionário que, circulando desde 1728, já se encontrava perempto, e se limitava a uma erudição de natureza clássica, distanciada das inquietações práticas de 1747. Se o dicionário de Chambers tratava das artes e das ciências, Diderot acrescentou, para a sua enciclopédia,  os verbetes sobre os ofícios profissionais. Dedicou grande parte às ilustrações, que, sobretudo no caso dos ofícios, contribuíram para que a obra servisse como  manual de instruções.


Perseguida pela Igreja, uma vez que era essencialmente materialista, e incluída no Índex;   mal vista pela monarquia, por reivindicar as liberdades políticas, a Enciclopédia passou por inúmeras dificuldades e chegou a ser proibida. Diderot foi preso por algum tempo, D’Alembert desistiu de ser o co-editor, a partir do volume oitavo, e os últimos tomos foram impressos e distribuídos clandestinamente. O custo era altíssimo. Quando relembramos que a composição, tipo por tipo, era manual, e as chapas, armadas uma a uma, em operação demorada, podemos imaginar o dinheiro necessário apenas para o trabalho tipográfico. Mais de dois mil gráficos trabalharam durante os vinte e um anos de edição, transcorridos entre o primeiro e o último dos 28  volumes, 11 deles só de ilustrações.


A Enciclopédia foi empreendimento revolucionário, e disso Diderot tinha plena consciência. A publicação serviu para derrubar os pilares do poder feudal de uma nobreza ociosa e parasitária, que consumia a maior parte dos recursos obtidos com o trabalho dos franceses; serviu como fermento da Revolução Francesa e a derrocada da monarquia; combateu a Igreja, que, sócia privilegiada da opressão e monitora do pensamento, ameaçava os intelectuais com os dogmas e mantinha os néscios submissos, mediante a ameaça do inferno. Como as luzes vinham de várias fontes, Diderot escolheu para o subtítulo da obra a trilogia do inglês Francis Bacon,  que assim resumia as operações da mente: Memória, Razão e Imaginação.


Diderot foi mais do que seu diretor intelectual. Coube-lhe buscar os subscritores – o que representava para cada um deles a aplicação de uma pequena fortuna – entre os ricos mais esclarecidos, os pioneiros da indústria e do comércio e alguns banqueiros, como o mais eminente financista de Paris, Jacques Necker, que viria a ser a figura chave na Queda da Bastilha. Durante muito tempo, os enciclopedistas foram acolhidos no salão de Madame Necker, onde as novas idéias eram livremente debatidas.


O autor de “A Religiosa” agiu, ao mesmo tempo, como pensador, militante político e ativo empreendedor. Usando recursos que hoje encontramos na internet, como a remissão dos assuntos a outros verbetes, a inclusão das fontes de informação e referências bibliográficas, o que hoje chamamos de hiperlink. O texto incitava à ampliação crítica da informação, com o fantástico resultado que a História registra. E a empreitada fascinou todos os que a ela se associaram. O caso mais notável desse empenho foi o de Louis de Jacourt, um intelectual muito rico e de grande saber, que se formara em teologia, em Genebra, ciências naturais em Cambridge e medicina, em Leiden, na Holanda. Jacourt, sozinho, redigiu um quarto de todos os verbetes da Enciclopédia, sem cobrar um centavo pelo seu trabalho. Ao contrário, contratou vários assessores, que o ajudaram na exaustiva pesquisa daqueles tempos, e lhes pagou com seu próprio dinheiro.


Mesmo quando sua distribuição teve que ser clandestina, a Enciclopédia era discutida em todos os salões. Suas idéias estimularam o aparecimento de novos pensadores, que se somaras à elite da razão daquele tempo, formada por homens muitos deles nobres, como foram como Montesquieu, Grimm e Holbach. Eles se somaram a livres pensadores, como Voltaire, D’Alembert, Condorcet, Daubeton, Rousseau, Turgot e Quesnay, e a mulheres como Mme. D’Epinay, Sophie Volland, Mme Necker – e a notável proteção financeira a Diderot, de Catarina, a imperatriz da Rússia, para abrir o caminho do século seguinte.


Leia também a continuação:

Em busca da razão perdida (3)


O Iluminismo conduziu o mundo, durante o século 19 e a maior parte do século 20. A oposição que sofreu, no início dos oitocentos, com o Romantismo, foi débil, e só se manifestou de forma mais forte nas artes, sobretudo na literatura. Hegel e Marx, nas  idéias sociais, ou seja, políticas, são dois dos maiores frutos do século 18. Um se seguiu ao outro, e de seu pensamento surgiram os grandes movimentos revolucionários do século passado. Apesar disso, os resultados mais espetaculares das luzes parecem ter ocorrido na ciência e na tecnologia.


O espírito do mundo moderno é o da ruptura de todos os limites, na investigação do cosmos, na velocidade das comunicações e dos transportes,  na duração da vida.


Galileu tem uma frase inquietante: muita prudência, muitas vezes, quer dizer muita loucura. A razão, sendo o uso da mente para a construção da autonomia, já representa, em si mesma, uma violação da natureza instintiva da espécie: talvez nessa intuição, Chesterton tenha afirmado que louco é aquele que perdeu tudo, menos a razão – o que significa entender que a aparente loucura pode também significar muita prudência.


No que se refere à política – que é a mais necessária das atividades humanas – o século passado foi o da exacerbação de um confronto milenar, que está nas glândulas da espécie, e que constitui o eixo das civilizações: o do egoísmo contra o altruísmo, dos ricos contra os pobres, dos fortes contra os débeis. É assim que poderemos ver em São Francisco de Assis a constatação de Chesterton – de resto um de seus grandes devotos – de que o louco é aquele que perdeu tudo, menos a razão. Não havia outra forma para que a sociedade de Assis do século 13 pudesse ver a conduta do jovem Bernardone, ao renunciar à vida confortável que a riqueza lhe permitia, romper com o pai, e lhe devolver as roupas luxuosas que vestia e, com o manto pobre de monge que o bispo de Assis lhe deu para cobrir a nudez, partir para outros atos de aparente loucura, nos quais se escondia a mais pura razão. No século 20 tivemos testemunhos desta conduta, tida como insana, na solidariedade radical, em nome do humanismo – que é sempre cristão, ainda que se identifique como agnóstico ou ateu- e tanto mais cristão quanto menos acredite na recompensa eterna.


Foi assim que tivemos, entre outros, o forte testemunho de Simone Weil, nascida judia, convertida ao marxismo e, em seguida ao cristianismo, e que ao Vaticano conviria mais fazê-la beata e mártir do que conferir santidade ao espanhol Balaguer. Simone abandonou, ainda menina, as comodidades da família, viveu entre os oprimidos, quis participar da luta na Espanha, um acidente a excluiu da atividade revolucionária, e sua renúncia a viver melhor do que viviam os mais pobres a levou à morte prematura, aos 34 anos, com tuberculose. São loucos, como Francisco e Simone, e muitíssimos outros, anônimos, que, no decorrer da História, perdem tudo, menos a razão.


O Iluminismo, que significara um outro salto da razão, não só trouxe  os movimentos de solidariedade, como não conseguiu impedir  a evolução industrial, graças à inteligência técnica e a ascensão da burguesia capitalista, e a exacerbação do imperialismo britânico e do colonialismo europeu, e a submissão da maioria da população do mundo aos opressores. Em nome de equivocada interpretação biológica, surgiu o mito da superioridade racial, e levou à estupidez do fascismo e do nacional-socialismo, com as duas grandes guerras mundiais, os milhões de mortos, e os conflitos continuados, sempre conduzidos pelos mais fortes contra os mais débeis. Entre a invasão da Etiópia pela Itália, em 1935,  e recente intervenção militar na Líbia pelos países europeus, não há diferença essencial: é a arrogância dos que se acham superiores e que, por tal razão, se sentem com o direito aos bens naturais do mundo, sobretudo as fontes de energia, como o petróleo.


A luta contra o totalitarismo dos anos 30 convocou os intelectuais do mundo inteiro, a partir da Guerra Civil da Espanha. O engajamento da inteligência ainda continuou, na Resistência contra os nazistas e, ainda mais dura, contra os  capitulacionistas e traidores, como ocorreu na França, nas lutas contra os golpes militares na América Latina, no combate aos crimes cometidos pelos Estados Unidos no Vietnã, no combate contra o novo racismo europeu. Embora muitos ainda permaneçam nas trincheiras da razão, o novo liberalismo dos anos oitenta,  conseguiu encabrestar a inteligência e afasta-la das preocupações políticas. É assim que se explica que a França de Clemenceau e Leon Blum, de De Gaulle e Mitterrand, esteja hoje entregue ao pigmeu Sarkozy, e que os Estados Unidos de Roosevelt e Eisenhower, depois da tragédia dos Bush, assista à erosão veloz da grande esperança que foi Obama. Lembre-se a Espanha, condenada a se entregar novamente à direita, saudosista do franquismo, depois da claudicação de Zapatero. Não falemos na Itália, governada por um bufão, e, ainda assim, com a petulância de nos dar lições morais e recorrer ao Tribunal de Haia contra o exercício da soberania brasileira.


Enfim, o mundo, sendo sempre o mesmo, piora – e reclama nova articulação da inteligência para a restauração do compromisso da espécie humana com sua própria  sobrevivência, que os materialistas atribuem à razão, e os cristãos radicais identificam na santa loucura  do amor solidário, como o do Poverello de Assis.



Clique aqui para ler “Santayana busca a razão perdida”.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Presidenta marretou a Teologia Neolibelê

Do Conversa Afiada

Dilma na ONU
desanca o neolibelês (*)



O excelente discurso da Presidenta na ONU – leia a íntegra no Blog do Planalto – conteve uma advertência à China e aos EUA, pela prática da manipulação cambial.

Os EUA reincidiram nesta quarta-feira na manipulação, através do Banco (inútil e) Central, que voltou a derramar dólares (US$ 400 bi) no mercado para desvalorizar o dólar e fortalecer as exportações.

O Brasil já reagiu a isso no passado e Dilma na ONU avisou que vai continuar a reagir.

A China manipula, porque seu cambio não é flexível, como recomenda a Dilma na ONU, e mantém proximidade quase-fixa com o dólar.

Para onde o dólar americano for, a China vai atrás e entope o mercado americano de produtos chineses (em boa parte, de fábricas americanas na China).

Além disso, é importante ressaltar os pontos do discurso da Presidenta que ferem no peito os pensadores do Neolibelês (*) brasileiro, onde se destaca a Urubóloga.

Especialmente aqueles da elite que procuram ver em cada ato da Presidenta uma divergência com aquele a quem dedica ódio em caráter prioritário: o nordestino metalúrgico, mais esperto que a elite toda reunida no Fasano.

Vamos à fuzilaria da Presidenta contra o Neolibelês (*), na versão imparcialíssima deste ansioso blogueiro:

- ajuste fiscal não basta: tem que fortalecer a demanda e fomentar o crescimento;

- o Tea Party americano não concorda, porque sobrepõe o interesse partidário ao do povo americano;

- não se sai dessa crise com teorias defasadas, de um mundo velho (o Neolibelês);

- enquanto os bancos centrais americanos europeus seguem o Neolibelês e o Estado se afasta da cena econômica, o desemprego explode: 44 milhões de desempregados na Europa; 14 milhões nos EUA; e 205 milhões no mundo;

- no Brasil, como se sabe e a Presidenta reforçou na ONU, a situação é, na prática, de pleno emprego;

- a solução do problema da dívida dos EUA e da Europa é crescimento – as políticas fiscais e monetárias tem que dialogar; não pode ser um monólogo de monetaristas;

- a questão mais urgente hoje entre os países ricos é a dívida soberana;

- países superavitários – como o Brasil – têm que reforçar a demanda interna e reagir à manipulação cambial;

- o Brasil mantém rigoroso controle de gastos do Governo a ponto de gerar vultoso superávit nas contas publicas, o que vai permitir continuar a investir em programas sociais, como o Bolsa Família, e em programas, como o PAC , que garantem o investimento e o crescimento.

E, para concluir, sob ovação, ela disse:

“Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.”

Ah, que Deus se apiede dos Neolibelês (*).

A Teologia Neolibelês tem hoje fundamentos tão sólidos quanto a economia da Grécia.


Paulo Henrique Amorim


(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

sábado, 17 de setembro de 2011

Os impostores

Do Blog do Miro

O impostômetro dos impostores

Por Mair Pena Neto, no sítio Direto da Redação:

A classe empresarial brasileira vive se queixando da "elevada" carga tributária brasileira. Há alguns anos, a Associação Comercial de São Paulo criou um impostômetro que registra quanto o brasileiro teria pago de imposto até a presente data. Os valores são sempre repercutidos pela mídia, como aconteceu nesta semana, quando o aparelho marcou R$ 1 trilhão em impostos, um mês antes do registro do mesmo valor, em 2010.

Desconfio que o impostômetro só funciona mesmo para a suposta indignação dos endinheirados. Já cansei - para usar expressão cara aos mais abastados - de ouvir falar nos valores estratosféricos registrados pelo tal aparelho, sem que desencadeie a mínima indignação popular. Chegam a ser curiosas as imagens dos protestos contra os impostos, com um bando de engravatados olhados com estranheza pela população.

Soa totalmente artificial a preocupação dos empresários com o preço do arroz, do feijão e da cachaça. Eles não pesam nada em seus bolsos e não acredito que estejam preocupados com a carestia e seu impacto na população brasileira. Desconfio que estejam mais interessados em obter maiores lucros e elevarem ainda mais seu padrão de vida, equivalente ao dos países mais desenvolvidos do mundo. Cansamos, valendo-me uma vez mais da expressão, de ver o governo conceder isenção fiscal para vários produtos sem que isso retornasse no preço final ao consumidor.

Imposto, como o próprio nome diz, não é algo que se pague por livre e espontânea vontade, mas sem ele nenhuma sociedade funciona. A discussão seria então sobre o tamanho da carga tributária, motivo da queixa permanente dos empresários. Se levarmos em conta a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado, podemos dizer que, sim, ela é alta. A educação pública não é boa, como mostrou o recente resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e a saúde não consegue oferecer um atendimento no padrão necessário com os recursos que tem. Mas estes não são serviços utilizados pelos adeptos do impostômetro, que têm dinheiro suficiente para pagar as melhores escolas para seus filhos e os mais caros planos de saúde. Os impostos precisam, isso sim, ser mais bem utilizados para garantir a melhora destes serviços, proporcionando a toda a população as mesmas qualidades de educação e saúde dos filhos dos empresários.

Por outro lado, a carga tributária não é elevada se a entendemos como necessária para um Estado com capacidade de promover o desenvolvimento econômico, de intervir nos momentos de crises globais - como o que vimos em 2008 e se repete agora -, e de oferecer bons serviços aos seus cidadãos. Injusta, por exemplo, é uma alíquota máxima de imposto de renda, que iguala profissionais com salários médios a executivos com bônus superiores a tudo que ganham em um ano. Inaceitável é que essa carga tributária recaia, proporcionalmente, muito mais sobre os pobres do que sobre os ricos. Inconcebível é não existir imposto sobre as grandes fortunas. Sobre isso, jamais se ouviu um pio dos que reclamam dos altos impostos.

No fim, tudo se resume a uma visão do papel do Estado. A turma do impostômetro é aquela que gosta do Estado mínimo e do livre mercado ditando as regras. Ela não está preocupada com universalização da saúde e da educação porque pode pagar, e bem, para tê-las. Os defensores de um Estado mais atuante e cidadão não podem cair nessa. O que é preciso é tornar mais justa a capacidade de arrecadação do Estado para que esse tipo de discurso não prospere em quem não tem nada a ver com ele.

domingo, 11 de setembro de 2011

A guerra ao terror que provocou muito mais terror

Do Opera Mundi

11/09/2011 - 08:00 | Thassio Borges | São Paulo

Consequência do 11/09, Guerra ao Terror trouxe prejuízos e foi mal explicada





Os ataques de 11 de setembro de 2001 se tornaram o estopim de uma nova estratégia militar dos Estados Unidos, popularmente conhecida como “Guerra ao Terror”. Também chamada de Doutrina Bush, em referência ao então presidente norte americano George W. Bush (2011-2009), a ofensiva gerou duas guerras além-mar, no Afeganistão e Iraque. O custo dos conflitos para os Estados Unidos, segundo pesquisa recente, superou os da Segunda Guerra Mundial (1943-1945).
Clique na imagem acima para acessar o especial completo do Opera Mundi
Os dados foram divulgados no último mês de junho pelo projeto Cost of War, composto por especialistas da Universidade Brown, nos EUA. De acordo com pesquisadores, os norte-americanos já teriam gastado de 3,7 trilhões a 4,4 trilhões de dólares (quase sete trilhões de reais), mais do que 4,1 trilhões de dólares despendidos na Segunda Guerra. Os números também incluem valores gastos em conflitos no Paquistão.
Para a professora de História Maria Aparecida de Aquino, da USP (Universidade de São Paulo), as perdas norte-americanas com os conflitos não se resumem apenas às questões de ordem financeira. “Eles não ganharam nada e perderam uma coisa que não se ganha com facilidade. Na Primeira e Segunda Guerra Mundial, os EUA conquistaram dividendos econômicos, um ganho efetivo. No entanto, há coisas que você ganha ou perde e são muitos difíceis de serem mensuradas. É o que eu chamaria de capital moral”, afirmou.
Carlos Latuff
Esse capital moral pode ser entendido como um respeito global que os Estados Unidos obtiveram por conta de suas atuações em conflitos anteriores e também por sua posição destacada no cenário econômico e político mundial.
Foi esse capital moral, segundo a professora, que deu respaldo ao país para que este sustentasse posições muitas vezes questionáveis em organismos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas). Ainda segundo ela, tal respeito da comunidade internacional tornou-se mais forte após a Segunda Guerra e foi abalado com os conflitos da Guerra ao Terror.
"Os EUA saíram da Segunda Guerra, juntamente com a União Soviética, como os responsáveis por livrar o mundo de algo que naquele momento era considerado muito negativo e, se expandido, tornaria o mundo pior: o fascismo e o nazismo. No entanto, esse capital moral foi perdido”, completou.
Guerra contra o Talibã
A guerra contra o Afeganistão foi uma resposta imediata aos atentados de 11 de setembro. Os EUA, contando com o apoio da Otan e de outros países ocidentais, como Reino Unido e França, invadiram o país em outubro do mesmo ano sob o pretexto de encontrar Osama Bin Laden, mentor dos ataques, enfraquecer a Al-Qaeda e remover do poder o regime Talibã, que teoricamente dava apoio ao grupo.
Após anos de conflitos, Hamid Karzai, cientista político afegão, chegou ao poder do país, apoiado pelos EUA. Sua reeleição, no entanto, foi considerada fraudulenta. Sem perspectivas para o país, e sob fortes críticas a respeito dos gastos destinados aos conflitos, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que as tropas norte-americanas deixariam o país sistematicamente.
Flávio Rocha de Oliveira, professor de Relações Internacionais na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), considera que a instabilidade no Afeganistão, gerada pela guerra, pode trazer consequências ainda mais sérias para os vizinhos da região. “Essa situação de instabilidade contagia o Paquistão, que tem armas nucleares. Parte do Talibã tem um ramal muito ativo dentro do território paquistanês, com o apoio de grupos étnicos e do serviço de inteligência do país”, afirmou. Ele acredita ainda que os EUA já trabalham com a hipótese de o Talibã voltar ao governo.
“Vende-se para o mundo a idéia de que as eleições foram fraudadas, mas que este governo dá o mínimo de estabilidade ao país. Estabilidade relativa, pois o Talibã ataca com frequência as forças do governo e também as norte-americanas. É provável, inclusive, que existam canais de negociação aberto entre o governo norte-americano e certos setores do Talibã, prevendo sua volta ao poder”, declarou.
Terror Internacional
Para justificar os conflitos e as invasões, os EUA se apoiaram à época no medo que dominava as principais potências mundiais. Segundo Aquino, foi vendida a ideia de que, a partir dos ataques, o terrorismo deixava de ser localizado para se tornar internacional. 
“Os EUA tentaram mudar a concepção de terrorismo (a partir dos ataques). Todas as pessoas, nesta concepção, poderiam ser atingidas independentemente do local em que estivessem. Isso gerou muito medo, o que justificaria os atos cometidos pelos norte-americanos”, explicou a professora.
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Soldados embarcam em um helicóptero Boeing CH-47 Chinook durante operação no Afeganistão 
Dessa forma, a Guerra ao Iraque não foi imediata aos ataques e começou em 2003. O objetivo oficial era remover o governo de Saddan Hussein, que estaria supostamente fabricando armas de destruição de massa. Apesar da oposição de certos setores contrários ao conflito, o medo falou mais alto e os EUA invadiram a nação árabe. No mesmo ano, Saddam Hussein, que havia fugido, foi capturado. Três anos depois, ele foi enforcado após ser condenado por um tribunal iraquiano.
Tanto os EUA quanto seus aliados, no entanto, não conseguiram restaurar a ordem do país. Isso fez com que diversas nações aliadas retirassem suas tropas do Iraque nos anos seguintes. A operação no país foi encerrada em agosto de 2010 e a expectativa é que toda a tropa deixe o país até o final de 2012.
Consequências
As consequências das guerras para o Iraque e Afeganistão foram terríveis. Para Aquino, a intervenção “desastrosa” dos EUA na região transformou um país em “uma cratera a céu aberto”, observou. “Mesmo que os EUA retirem todas as suas tropas, como será possível acabar com a guerra civil?”.
Para Oliveira, a estabilidade do Iraque está intrinsecamente ligada à situação do vizinho Irã, que a qualquer momento pode agravar-se. “O Iraque sofre a todo momento uma influência pesada do Irã. Não há estabilidade no país se não houver em alguns termos com o Irã”, explicou. Para ele, a retirada das tropas norte-americanas poderá levar a uma aproximação maior entre as duas nações que já estiveram em guerra na década de 80.
“Para o Iraque, com a retirada das tropas norte-americanas, o Irã se torna cada vez mais essencial para manter a estabilidade do país. Isso por conta do apoio econômico e político que o Irã oferece a varias lideranças políticas xiitas iraquianas”, explicou o professor.
A guerra entre os dois países (1980-1988) foi motivada, dentre outras coisas, pelo medo do presidente iraquiano Saddam Hussein, junto com outros países, que a Revolução Islâmica no Irã se espalhasse por outras nações de maioria xiita. Como o Iraque, por exemplo.
Com a saída de Saddam do poder, houve uma certa aproximação entre os dois países no que diz respeito, principalmente, aos setores compostos por maioria xiita. Dessa forma, uma crise no Irã poderia gerar uma instabilidade na população xiita iraquiana.
“Sabendo disso, os iranianos usam esta carta para mostrar aos EUA que caso eles os ataquem por conta do programa nuclear, o país poderá criar uma instabilidade forte dentro do território iraquiano”, acrescentou Oliveira.
Outro problema originado pelos conflitos, segundo o professor, foi o abalo nas relações entre os EUA e os países árabes. Para ele, o país entrou em guerras que não conseguiu resolver e levou instabilidade e medo para a região.
“A imagem de que os EUA sucedem os impérios coloniais europeus no Oriente Médio foi fortalecida. Isso criou ainda mais instabilidade, já que a população árabe passou a temer ainda mais as elites aliadas aos EUA, como Egito e Arábia Saudita, e estes por sua vez passaram a confiar ainda menos nos norte-americanos”, completou.
Crise Financeira
Para Aquino, a crise financeira que os EUA enfrentam nos últimos anos não pode ser atribuída apenas à Guerra contra o Terror. Segundo ela, no entanto, a crise atual tem sim relações com os conflitos dos últimos dez anos.
“Muito do que está acontecendo atualmente com os EUA, até pouco tempo atrás inimaginável, se deve a essa loucura que foi o investimento pesado nas guerras, particularmente a do Iraque”, explica a professora. “Afinal, quanto custa uma guerra?”, completa. Os EUA conhecem bem a resposta e ela, definitivamente, não é agradável ou otimista.