Continua a todo o vapor a campanha da mídia contra o ministro Guido Mantega. Que ninguém se iluda: Mantega, que volta e meia dava declarações com um excesso de franqueza que permitiam explorações, está sabiamente calado, porque sabe que está naquelas situações de filme policial americano, onde dizem: “tudo o que você disser poderá e será usado contra você”.
Hoje é o Correio Brasiliense quem entra na roda, com um artigo que leva o explícito título de “A culpa é de Mantega”. Nele, diz-se que “nos contatos que estão sendo feitos por emissários de Dilma Rousseff com respeitados economistas, todos são unânimes em dizer que as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para o sistema de metas de inflacionárias, embutem o que eles chamam de prêmio de risco devido ao histórico do ministro da Fazenda.”
Segundo eu sei e o mundo inteiro sabe, o histórico de Mantega é ter gerido a política determinada por Lula para que o Brasil pudesse fazer da crise mundial uma “marolinha”.
Mantega vai ter de se segurar para enfrentar “a maldição dos tubarões”. Primeiro, porque o Banco central não está cedendo às pressões para fazer aumentos mais altos nas taxas de juros, preferindo outras formas de restringir a liquidez, formas que não dão lucros aos que especulam com a dívida pública. Ontem mesmo o diretor de Assuntos Internacionais do banco, Luiz Pereira da Silva, defendeu no Canadá esta política, contra as pressões do FMI por mais aumento de juros.
E, claro, vai ter de passar pelo “terrorismo de mercado” que não perdoa a saída de Roger Agnelli do comando da Vale. Não por ele, Agnelli, só um bagaço de laranja para eles, mas pelo fato de que uma direção que oriente a grande empresa como parceira de um projeto nacional ter, necessariamente, de passar a investir mais, em lugar de dar privilégios exagerados à distribuição de lucros.
Porque quando é para dar lucro, nem passa pela cabeça desta gente preocupar-se com inflação. Querem ver? Em fins de 2008, quando a crise mundial campeava solta a vale protagonizou aumentos exagerados no preço interno do aço.
Agora, a mídia faz escândalo com uma queda de até 3,95% – dependendo do tipo de ação, a queda é menor - nas ações da Vale sem dizer uma palavra sobre o fato de que o minério de ferro, desde fevereiro, enfrenta uma tendência de redução de preços: depois de atingir um pico em fevereiro, caiu, em média, 10% de lá para cá. O assunto é manchete em O Globo, em matéria para assinantes reproduzida aqui.
Mas nossos jornalistas talvez não tenham acesso à internet, não é?
Porque dizer que uma empresa que vende basicamente minério esteja perdendo por “instabilidade política” porque suas ações ((nem todas, repito) caíram 3,95% quando o que ela vende caiu 10% só pode ser ignorância, não é?
Ou, em lugar de jornalismo, alguns façam é lobby.
Nenhum comentário:
Postar um comentário