segunda-feira, 30 de maio de 2011

O perigo do pepino

Do Conteúdo Livre

Bactéria mata e assusta na Alemanha

Alimentos importados da Espanha foram consumidos especialmente em Hamburgo

Pelo menos 10 pessoas já morreram e 300 estão sendo tratadas na Alemanha devido à infecção por um tipo letal da bactéria E. Coli. O governo suspeita de que pepinos orgânicos importados da Espanha e contaminados com a bactéria possam ser a causa da epidemia.

A maior parte das mortes, causadas pela ingestão de alimentos contaminados, ocorreu em Hamburgo, no norte do país. O tipo de bactéria registrado na Alemanha é o E. Coli enterohemorrágico (EHEC), que causa diarreia com sangramento e pode levar à insuficiência renal. Diferentemente da maioria dos casos da doença, que afeta em geral crianças de até cinco anos de idade, quase todos os infectados na Alemanha são adultos, em sua maioria mulheres. Especialistas em saúde do governo alemão estão recomendando à população do norte do país que não consuma tomates, pepinos ou alface crus.

– Também é possível que haja infecções secundárias durante essa epidemia. Essas novas infecções se espalham de pessoa para pessoa, mas podem ser evitadas. Por isso, precisamos assegurar que a higiene pessoal de todos seja aprimorada – disse Helge Karch, especialista em saúde pública da Universidade de Munster.

As autoridades alertaram que os pepinos possivelmente infectados podem ter sido enviados para República Checa, Áustria, Hungria e Luxemburgo. Restrições foram impostas sobre dois exportadores de pepinos espanhóis, embora não se saiba se a infecção ocorreu na Espanha, durante a viagem dos produtos ou na chegada dos alimentos à Alemanha.
O grupo de bactérias Escherichia coli (abreviada como E. Coli) é grande e diversificado, formado em sua maioria por cepas inofensivas. Alguns tipos de E. Coli, porém, causam diarreia, infecções urinárias, doenças respiratórias e pneumonia.

Se engalfinhando: Disputa interna por candidatura em 2014 continua no PSDB

Do Vi o mundo

“O mesmo sentimento de eliminar o outro”

Foto de Marcello Casal Jr., da Agência Brasil
Disputa interna por candidatura em 2014 continua no PSDB
30/05/2011 – 10h01
A convenção do PSDB, no último sábado (28), que tentaria entre outras coisas obter a unidade da legenda em torno de nomes de consenso paras as próximas eleições, não conseguiu dissuadir grão-tucanos que querem a candidatura à Presidência em 2014, informa o Painel da Folha, editado por Renata Lo Prete.
Nas palavras de quem os conhece bem, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) seguem determinados e “com o mesmo sentimento de eliminar o outro” na disputa à vaga do Planalto.
Na convenção, o deputado federal Sérgio Guerra (PE) foi reconduzido à presidência do PSDB. Assim, o mandato dele à frente do partido vai até 2013.
Na nova configuração da executiva nacional do PSDB, o grupo de Serra conseguiu emplacar o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman na primeira vice-presidência da sigla. Já o grupo ligado ao senador Aécio manteve o deputado Rodrigo de Castro (MG) na secretaria-geral do partido.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi mantido na presidência de honra do PSDB.

domingo, 29 de maio de 2011

O que Lula foi fazer em Brasília

Do Conversa Afiada

Nunca Dantes foi tratar do PMDB.
O partido da “m”. E, não, do Palocci



O Panteão da Moral: Wellington, Alves e Cunha. O Temer é o pai de todos
A leitura dos jornais do fim de semana levou o ansioso blogueiro a ligar para o Tirésias.

A perplexidade do blogueiro começou com o que disse Jorge Bastos Moreno, na pág. 3 do Globo, de sábado, que reproduz edificante diálogo entre o presidente do PMDB, Michel Temer (*), e o Tony Palocci, aquele que não mostra a lista de fregueses nem ao Procurador Geral da República.

- Você acha que eu vou brigar por um ministério de m… ?, perguntou Temer ao Tony.

(O Moreno e o Globo escrevem por inteiro a palavra “m…”, o que dá uma ideia do ponto a que chegou o PiG (**), em busca da sobrevivência.)

Temer, o vice que pensa ser co-presidente, se referia ao Ministério da Agricultura.

(O Brasil é a maior potência agrícola do  mundo.

É o único país do  mundo que, sozinho, pode alimentar o mundo – se os verdentreguistas deixarem, por exemplo, Mato Grosso trabalhar

Por que será, amigo navegante, que o Ministério da Agricultura é um ministério de “m…” ? 

Por que será que o PMDB prefere Furnas ?

A Funasa ? 

O Ministério das Comunicações ? 

Será que o Ciro Gomes sabe a resposta a essas terríveis perguntas ?)

Temer dialogava com o empresário imobiliário feito chefe da Casa Civil, Tony Palocci.

O motivo da altercação era a ameaça de o PMDB de não votar o Código Florestal.

Não porque o PMDB tenha posições filosóficas inegociáveis sobre as áreas de proteção ambiental.

O PMDB prefere as áreas que protegem outros ambientes, mais escuros.

O PMDB ameaçou votar contra o Governo porque sempre quer Furnas !

A Funasa !

Por que será, Ciro ?

E não um  ministeriozinho de “m…”

A sorte do empresário imobiliário Tony Palocci foi levantar o tom da conversa com o presidente do PMDB.

Aí, deu-se o furdunço.

A presidenta ameaçou demitir os ministros do PMDB.

E o Nunca Dantes foi a Brasília.

Para salvar a “governabilidade”.

Foi aí que o ansioso blogueiro resolveu telefonar ao profeta Tirésias, recolhido às montanhas de Minas, à espera de Édipo.

- Profeta, o que o Lula foi fazer em Brasília ?

- Apartar o Temer da Dilma.

- Apartar ?

- É, porque a presidenta ia para a jugular.

- Mas, Tirésias, a presidenta não está doente ?

- Doente de ódio …

- Ódio de quem ?

- Do Temer e daquele outro guardião da Moral, aquele dono de uma emissora de tevê no Rio Grande do Norte, como é que ele se chama, mesmo ?

- O Henrique Alves. É, Tirésias, caro amigo, mas você se esquece dos outros guardiães da Moral PMDBista.

- Não, eu sei. Tem ainda o Welllington …

- O Moreira Franco, que até hoje não despachou sozinho com a Presidenta …

- Sim, ele, que é um campeão de votos em Niterói. E mais o Eduardo Cunha.

- O herói da batalha de Furnas.

- Não é ele quem tem processa ?

- Sim, ele e mais 36.

- Então, o Lula foi lá acalmar o PMDB.

- Como é que se acalma o PMDB ?, Tirésias ?

- Tem que perguntar ao Ciro…

- Já sei.

- Mas, o Nunca Dantes não foi lá para salvar a pele do Palocci, Tirésias ?

- Não, meu filho. O Palocci está insalvável, diria o Magri.

- Como assim ?

- A Dilma vai botar ele na geladeira, esperar o PMDB recolher a coragem e, depois, manda o Palocci de volta para Ribeirão 

- Ribeirão, não,Tirésias.

- Para onde, então ?

- Você sabe, amigo profeta, no Conversa Afiada a gente não usa certas expressões que o Globo e a Folha (***) costumam usar na primeira página.  Depois te falo pessoalmente.

Pano rápido.


Paulo Henrique Amorim



(*) Uma determinada repórter de Brasilia tem uma descrição pormenorizada da evolução patrimonial da notável carreira política de Michel Temer. Uma reportagem sobre isso seria muito útil à consolidação da Moral e dos Costumes da República.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(***) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Código florestal: progresso de quem, cara pálida?

Do Vi o mundo

Elaine Tavares: Progresso de quem, cara pálida?

Aprovada a destruição. Que fazer?
por Elaine Tavares, do  Iela
Vivemos um eterno retorno quando se trata da proteção aos latifundiários e grandes empresas internacionais. No Brasil contemporâneo, pós-ditadura, nunca houve um governo sequer que buscasse, de verdade, uma outra práxis no campo. Todos os dias, nas correntes ideológicas do poder, disseminadas pela mídia comercial – capaz de atingir quase todo o país via televisão  – podemos ver, fragmentadas, as notícias sobre a feroz e desigual queda de braço entre os destruidores capitalistas e as gentes que querem garantir vida boa e plena aos que hoje estão oprimidos e explorados.
Nestes dias de debate sobre o novo Código Florestal, então, foi um festival. As bocas alugadas falavam da votação e dos que são contra o código como se fossem pessoas completamente desequilibradas, que buscam impedir o progresso e o desenvolvimento do país. Não contentes com todo o apoio que recebem da usina ideológica midiática, os latifundiários e os capatazes das grandes transnacionais que já dominam boa parte das terras brasileiras, ainda se dão ao luxo de usar velhos expedientes, como o frio assassinato, para fazer valer aquilo que consideram como seu direito: destruir tudo para auferir lucros privados.
Assim, nos exatos dias de votação do novo código, jagunços fuzilam Zé Claudio, conhecido defensor da floresta amazônica. Matam ele e a mulher, porque os dois incomodavam demais com esse papo verde de preservar as árvores. Discursos tolo, dizem, de quem emperra a distribuição da riqueza, deles próprios, é claro. E o assassinato acontece, sem pejo, no mesmo dia em que os deputados discutem como fazer valer – para eles – os seus 30 dinheiros sujos de sangue.
Imagens diferentes, mas igualmente desoladoras. De um lado, a floresta devastada e as vidas ceifadas à bala, do outro a tal da “casa do povo”, repleta de gente que representa, no mais das vezes, os interesses escusos de quem lhes enche o bolso. Pátria? País? Desenvolvimento? Progresso? Bobagem! A máxima que impera é do conhecido personagem de Chico Anísio, o deputado Justo Veríssimo: eu quero é me arrumar!
No projeto construído pelo agronegócio só o que se contempla é o lucro dos donos das terras, dos grileiros, dos latifundiários. Menos mata preservada, legalização da destruição, perdão de todas as dívidas e multas dos grandes fazendeiros. Assim é bom falar de progresso. Progresso de quem, cara pálida? Ao mesmo tempo, os “empresários” do campo, incapazes de mostrar a cara, lotam as galerias com a massa de manobra. Pequenos produtores que acreditam estar defendendo o seu progresso. De que lhes valerá alguns metros a mais de terra na beira de um rio se na primeira grande chuva, o rio, sem a proteção da mata ciliar, transborda e destrói tudo? Que lógica tacanha é essa que impede de ver que o homem não está descolado da natureza, que o homem é natureza.
Que tamanha descarga de ideologia os graúdos conseguem produzir que leva os pequenos produtores a pensar que é possível dominar a natureza, como se ao fazer isso não estivessem colocando grilhões em si mesmo? Desde há muito tempo – e gente como Chico Mendes, irmã Doroty e Zé Claudio já sabia -  que o ser humano só consegue seguir em frente nesta terra se fizer pactos com as outras forças da natureza. E que nestes pactos há que se respeitar o que estas forças precisam sob pena de ele mesmo (o humano) sucumbir.
O novo código florestal foi negociado dentro das formas mais rasteiras da política. Por ali, na grande casa de Brasília, muito pouca gente estava interessa em meio ambiente, floresta, árvore, rio, pátria, desenvolvimento. O negócio era conseguir cargo, verba, poder. Que se danem no inferno pessoas como Zé Cláudio, que ficam por aí a atrapalhar as negociatas.  Para os que ali estavam no plenário da Câmara gente como o Zé e sua esposa Maria não existem. São absolutamente invisíveis e desnecessárias. Haverão de descobrir seus assassinos, talvez prendê-los por algum tempo, mas, nas internas comemorarão: menos um, menos um.
Assim, por 410 x 63, venceram os destruidores. Poderão desmatar a vontade num tempo em que o planeta inteiro clama por cuidado. Furacões, tsunamis, alagamentos, mortes. Quem se importa? Eles estarão protegidos nas mansões. Não moram em beiras de rio. Dos 16 deputados federais de Santa Catarina apenas Pedro Uczai votou não. Até a deputada Luci Choinacki, de origem camponesa votou sim, contrariando tudo o que sempre defendeu.
Então, na mesma hora em que a floresta chorava por dois de seus filhos abatidos a tiros, os deputados celebravam aos gritos uma “vitória” sobre o governo e sobre os ecologistas. Daqui a alguns dias se verá o tipo de vitória que foi. Mas, estes, não se importarão. Não até que lhes toque uma desgraça qualquer. O cacique Seatlle, da etnia Suquamish, já compreendera, em 1855,  o quanto o capitalismo nascente era incapaz de viver sem matar: “Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver.
Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus fil hos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende”.
Zé Claudio e Maria eram assim, vistos como “selvagens que nada compreendem”. Mas, bem cedo se verá que não. Eles eram os profetas. Os que conseguiam ver para além da ganância. Os que conseguiam estabelecer uma relação amorosa com a terra e com as forças da natureza. Eles caíram à bala. E os deputados vende-pátria, quando cairão?
Já os que gritam e clamam por justiça, não precisam esmorecer. Perdeu-se uma batalha. A luta vai continuar. Pois, se sabe: quem luta também faz a lei. Mas a luta não pode ser apenas o grito impotente.
Tem de haver ação, organização, informação, rebelião. Não só na proteção do verde, mas na destruição definitiva deste sistema capitalista dependente, que superexplora o trabalho e a terra. É chegada a hora de uma nova forma de organizar a vida. Mas ela só virá se as gentes voltarem a trabalhar em cada vereda deste país, denunciando o que nos mata e anunciando a boa nova.
Elaine Tavares é jornalista. Texto publicado originalmente no Boletim do Instituto de Estudos Latinos (Iela), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Uma nação só é forte quando obtém acordo entre empresários, servidores e trabalhadores

Via blog do Favre

Acordo para o desenvolvimento

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA – FOLHA SP

Uma nação só é forte quando obtém acordo entre empresários, servidores e trabalhadores
Há sinais de que está se formando no Brasil uma coalizão política desenvolvimentista constituída por empresários industriais, trabalhadores e profissionais do setor público. Um acordo político dessa natureza é fundamental para o desenvolvimento econômico, porque este implica sempre a transferência de mão de obra para setores com valor adicionado per capita cada vez maior.

O tema central de meus estudos foi sempre o desenvolvimento ou o progresso; foi a busca pelas sociedades modernas dos grandes objetivos políticos que elas definiram historicamente para si próprias: segurança, bem-estar econômico, liberdade, igualdade e proteção do ambiente.
Esses objetivos nem sempre são coerentes uns com os outros, mas existe uma sinergia básica entre eles que faz com que os países mais desenvolvidos economicamente -aqueles que garantem a seu povo maior bem-estar econômico- tendam a ser também os que mais se aproximam dos outros quatro objetivos. Há exceções, mas países do norte da Europa são a melhor comprovação desse fato.
O desenvolvimento econômico não é, portanto, o único objetivo político das sociedades modernas, mas é seu objetivo mais estratégico.
Nesses estudos aprendi também que o fator político fundamental por trás de todos os países que se desenvolvem vigorosamente e realizam o “catching up”, ou alcançamento, é uma nação forte ou coesa, que se mostre capaz de constituir um Estado capaz e um mercado eficiente: um Estado que lhe sirva de instrumento principal na busca de seus cinco objetivos políticos e um mercado livre e bem regulado, que premie as inovações dos empresários e os esforços dos trabalhadores e dos profissionais.
Ora, uma nação só é forte quando é capaz de tecer um grande acordo social entre empresários industriais, profissionais públicos e os trabalhadores.
Um acordo que defina de maneira informal uma estratégia nacional de desenvolvimento. E que crie oportunidades de investimento lucrativo para os empresários, ao mesmo tempo em que promove no médio prazo o aumento dos salários. Porque é o aumento do investimento, e, em consequência, da poupança que promove o crescimento.
Para que esse pacto político faça sentido, há um pressuposto e duas condições. O pressuposto é o de que o investimento será tanto maior quanto maiores forem as oportunidades de investimento lucrativas, que, por sua vez, serão tanto maiores quanto mais o país conseguir neutralizar a tendência à sobreapreciação cíclica da taxa de câmbio e exportar bens manufaturados.
A primeira condição é “externa”: que essa coalizão política derrote politicamente a coalizão alternativa formada principalmente por rentistas e pelos interesses estrangeiros, para que parte de suas rendas possam ser transferidas para os lucros das empresas produtivas. A segunda é “interna”: que os trabalhadores aceitem uma redução provisória de seus salários, porque a necessária desvalorização inicial do câmbio tem essa consequência.
A notícia de que a Fiesp, duas centrais sindicais e os dois grandes sindicatos estão em fase adiantada de negociação de um grande acordo pró-indústria (”Valor Econômico”, 20.mai.2011) é uma indicação de que, afinal, uma grande coalizão desenvolvimentista está se constituindo no Brasil. Resta saber se esta coalizão terá apoio político na sociedade, serão criadas mais oportunidades de investimento e o país voltará a crescer aceleradamente como o fez entre 1930 e 1980, ou se nós continuaremos reféns do rentismo e dos conselhos vindos do Norte.
.

domingo, 22 de maio de 2011

FHC, o Facebook e a “coalizão de vontades”

Do Blog do Rovai

Azenha fez um texto pra distribuir na praça

O texto que segue do Azenha é daqueles que quando o mundo era analógico a gente imprimia um monte no mimiografo e saia por aí distribuindo nas portas de faculdades, fábricas, escolas, praças etc. Ele explica de forma simples o que está acontecendo na comunicação e na política nesta entrada da segunda década do século 21. E ainda cunha um termo que define o espírito deste novo movimento: “coalização de vontades”.
É pra ler e guardar.

FHC, o Facebook e a “coalizão de vontades”

por Luiz Carlos Azenha
Quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu um artigo sugerindo rumos para a oposição ao governo Dilma, na revista Interesse Nacional, reproduzido aqui, a mídia corporativa, que obedece primariamente ao princípio da espetacularização comercial da notícia, pinçou uma frase do texto, em que FHC supostamente desprezava o povão, para gerar um debate que perdurou alguns dias na blogosfera.
Porém, como já notou o Gilberto Maringoni de Oliveira, aqui, há mais substância no texto que uma leitura rápida sugere.
Recorto alguns parágrafos:
“Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe C” ou de nova classe média.
Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.
É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas”.
Infelizmente, talvez por conta de sua posição na hierarquia partidária, FHC não avançou na questão-chave, que o obrigaria a admitir o fracasso da direção do PSDB — e sua política de conchavos de bastidores, que exclui a grande maioria dos brasileiros, muitos dos quais votaram em José Serra em 2010: o uso das redes sociais para fazer política cotidiana tem como força motriz básica o descompasso entre os partidos políticos em particular e as instituições em geral e as demandas dos eleitores, filiados ou não.
Esse descompasso só se torna mais agudo por uma particularidade das redes sociais: elas aceleram o chamado “processo político”, enquanto a resposta às demandas se dá nos passos jurássicos da burocracia estatal, em todas as esferas.
Um exemplo particular tivemos no já famoso caso da estação de Metrô de Higienópolis: um único internauta, aparentemente insatisfeito com uma decisão tomada a partir do lobby de uma associação de moradores do bairro, sem considerar os interesses do conjunto da cidade de São Paulo, conseguiu arregimentar mais de 50 mil pessoas em um protesto virtual que, em seguida,se materializou de forma autônoma e apartidária nas ruas. Por ironia, aqueles profissionais de “tecnologias de informação” aos quais se referiu FHC muito provavelmente se juntariam à manifestação do Higienópolis, contra a política pouco transparente do Metrô de São Paulo na definição dos locais em que implanta estações.
Como troca horizontal, de várias mãos de direção, entre iguais, “transparência” é um dado essencial na blogosfera e nas redes sociais.
Como notou o blogueiro Eduardo Guimarães, aqui, os colunistas de jornal que foram ao protesto miraram no particular (a suposta falta do “povão” na manifestação) e perderam o essencial: as redes sociais são muito eficazes para promover o que eu chamaria de “coalizão de vontades”. Não estive no protesto de Higienópolis, mas me arriscaria a dizer, a partir de relatos que vi e ouvi, que ele foi importante por demonstrar que há um número crescente de eleitores que exigem participar da definição de políticas públicas.
Foi uma coalizão de vontades que derrubou o governo do Egito, em manifestações que ganharam força depois que um blogueiro chorou numa entrevista de televisão, conforme noticiamos aqui.
O que me leva ao próximo ponto: diferentemente dos jornais e das revistas, que são meios frios, do intelecto, a blogosfera, tanto quanto a televisão, é um meio “quente”, que combina o emocional com o intelectual.
Daí o sucesso, por exemplo, do discurso da professora do Rio Grande do Norte, que protestou contra as condições da educação em seu estado, que reproduzimos aqui. No vídeo da professora, a apresentação enfática acrescentou força à argumentação.
E a mensagem dela nunca sairia do Rio Grande do Norte não fosse a existência do You Tube: no tempo do Assis Chateaubriand, a professora jamais opinaria, por não ter dinheiro para comprar uma câmera, por não ter acesso a uma rede de televisão, por não ser uma “especialista” eleita por jornalistas.
Já escrevi, anteriormente, que o fenômeno das redes sociais está provocando uma revolução dos chamados “formadores de opinião”.
Isso se dá, em parte, pela dinâmica das redes sociais: os antigos “leitores” agora também são “produtores de conteúdo”; e, como digo sempre, são polinizadores. Distribuem os textos que julgam interessantes para os amigos, via twitter, orkut, facebook — a perder de vista.
Uma pergunta simples: você compraria um carro recomendado por um amigo ou por um estranho, com o qual não tem qualquer relação pessoal?
De outra parte, se dá também pelo caráter muito particular dos meios impressos:
1. Eles não contemplam a interação, são vias de mão única, são frios (na padaria, lendo o jornal, você já conseguiu obter uma resposta do colunista questionado por você?), pressupõe hierarquia entre autor e leitor.
2. A mídia corporativa, com seus múltiplos interesses econômicos, tende ao discurso “unitário”, centralizado, vertical, controlado do topo, distante da cacofonia da blogosfera e das redes sociais.
Mesmo que pontualmente, eu não concordo com 99% dos posts que reproduzo neste site. Nem, necessariamente, com os comentaristas. Mas posso citar dezenas de textos e livros e vídeos e documentários que li e vi a partir dos comentários. Ou seja, aprendi com os comentaristas. Quando muito, sou um mero administrador da “coalizão de vontades” dos frequentadores do site, como são muitos de meus colegas, do Luis Nassif (um pioneiro) ao Eduardo Guimarães, daMaria Frô ao Altamiro Borges, do Rodrigo Vianna ao Marco Aurélio Mello, do Paulo Henrique Amorim ao Idelber Avelar, do Rovai ao Marco Aurélio Weissheimer (com desculpas antecipadas aos não citados).
Essas coalizões não são formadas por néscios: nossos leitores são médicos, operários, engenheiros, sindicalistas, advogados, professores. Tem o Zé Povinho, o Stanley Burburinho, a Carmen Leporace. Não discriminamos por classe social, por conhecimento de gramática, por nickname.
As coalizões de vontades, como temos visto na Espanha, não respondem a uma liderança centralizada: elas são representativas de demandas amplas, sufocadas por instituições que não respondem ou foram corrompidas por colocar interesses privados acima do interesse público.
Alias, é preciso enfatizar que a blogosfera e as redes sociais, em si, não são revolucionárias. São apenas instrumentos. Os protestos no Egito e na Espanha jamais atingiriam as dimensões que atingiram se não existissem demandas sociais não atendidas institucionalmente.
Felizmente, para a oposição, o governo Dilma parece não ter compreendido essa dinâmica.
Pelo contrário. Independentemente do mérito da decisão, a forma abrupta como o Ministério da Cultura retirou de seu site o símbolo do Creative Commons — uma decisão, repito, banal — teve o dom de afastar do governo algumas centenas de militantes virtuais que, com seu conhecimento das redes sociais, eram responsáveis pela reprodução e multiplicação de textos, fotos, vídeos e notícias de apoio às políticas públicas do novo governo.
Faltou, ao governo Dilma, a capacidade de entender que o Creative Commons é — ainda que alguns digam tratar-se de ferramenta do “imperialismo” — resultado e ferramenta de uma “construção coletiva” do que poderíamos chamar de “nova política”: horizontal, multifacetada, compartilhada. Se o objetivo era detoná-lo do site do Ministério da Cultura, que pelo menos isso fosse feito a partir de um debate e de forma transparente, não como decisão hierárquica, unilateral, de “força”, de cima para baixo.
Ah, a soberba…
Por outro lado, se FHC teve a capacidade de perceber, em seu artigo, que nos períodos não eleitorais há gente disposta a fazer política nas redes sociais, é possível que um governador do PT, Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, se torne o primeiro a “institucionalizar” a dimensão política das redes sociais, com a criação de um gabinete digital a partir da próxima semana. Só vendo no ar para saber se, de fato, haverá interação entre os eleitores e o Poder Público.
Como enfatizei acima, a característica central da blogosfera é ser, sempre, uma via de várias mãos.
Integrar as redes sociais à política requer, com certeza, uma nova forma de fazer política. Assim como requer, dos jornalistas, uma nova postura diante de leitores, ouvintes e telespectadores. Mas isso eu pretendo explorar melhor nas palestras que farei na próxima quarta-feira em Salvador e, em seguida, no Encontro de Blogueir@s e Tuiteir@s Gaúchos, em Porto Alegre.