segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um Brasil de todos: a classe C vai ao resort

Via blog do Favre

31/01/2011A classe C vai ao resort

José Roberto de Toledo – O Estado de S.Paulo

Sonolento balneário do sul da Bahia, Santo André vive do turismo. São duas ruas apenas: a da praia é dominada por pousadas e restaurantes cujos donos falam português com sotaque. Os cardápios dão a volta ao mundo, mas é preciso rodar para encontrar uma moqueca.

O vilarejo tinha tudo para ser um destino privilegiado e exclusivo de VIPs internacionais. Privilegiado ainda é. Exclusivo, nem tanto. Quem tem movimentado a economia local são os turistas de outra sigla, a CVC.

Os “barões”, como os nativos chamam os viajantes endinheirados, só passeiam por lá durante os meses de verão. No resto do ano, grande parte dos estabelecimentos fecha as portas, seus donos voltam para a Europa, seus chefs vão destrinchar peitos de pato em outras cozinhas.

Um dos poucos abertos 365 dias é o maior empreendimento turístico da praia, o Costa Brasilis. Resort com arquitetura e decoração para agradar ao baronato, passou a oferecer pacotes de uma semana por dez parcelas de R$ 130 (”aéreo” incluído). O preço mal paga duas faxinas em São Paulo.

Os comerciantes locais descobriram que, ao contrário do turista nobre, vale a pena investir no ex-pobre. Enquanto os primeiros ficavam entocados e intocados no resort, os novos viajantes se dispõem a explorar pratos além do buffet – desde que se ofereça táxi grátis na ida e volta do restaurante.

O neoturista desce no aeroporto de Porto Seguro, sobe em um ônibus amarelo ovo de janelas panorâmicas e 38 quilômetros, 29 quebra-molas, duas aldeias indígenas e uma balsa depois desembarca no seu hotel de luxo. Piscinas, jacuzzis e praias semi-virgens (sic) o aguardam, promete a propaganda.

O trecho menos glamouroso é entre o avião e o ônibus. O aeródromo de Porto Seguro é o único no Brasil que recebe voos internacionais a ser administrado por uma empresa privada. O feito é anunciado com orgulho no site da Sinart. A propósito, a sigla vem de Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário Turístico. Seu forte são as rodoviárias.

A convivência no veraneio é pacífica entre descolados e deslocados. A praia é grande e demarcada. Na ponta de areia formada pelo encontro das águas doce e salgada há uma pororoca diária. Nada a ver com as marés. A onda é humana e corre do rio para o mar.

Uma vez por dia, outra parte da “família CVC” desce desde Cabrália a bordo de duas chalanas. Centenas de alegres turistas vão passar algumas horas nos guarda-sóis e barracas que os esperam na barra. Muitas caipirinhas e águas de coco depois, voltam ao seu porto seguro.

À distância, a cena da prancha caindo sobre a praia, seguida do aglomerado deixando a chalana em ordem unida, poderia lembrar o movimento das balsas que povoaram as fazendas de pecuária da região do Araguaia, no sul do Pará, nos anos 70. Mas boi não dança axé.

A rotina silenciosa de Santo André é quebrada momentaneamente por uma terceira vaga diária. São as escunas que descem o rio e passam ao largo da costa até Coroa Grande. A cada rajada de vento ouvem-se, na praia, trechos entrecortados da música de bordo: “muito assanhada (…) lapada (…) rachada”.

Na maré baixa, o horizonte divisa um ilhote de areia avermelhada e o que parecem centenas de gravetos espetados n”água. São, na verdade, os passageiros das escunas, passeando pelas faces descobertas de uma extensa barreira de coral, a quilômetros da costa. Na volta, eles param para almoçar em um restaurante à beira-rio.

Nenhum morador dá pistas de estar ficando milionário, mas o dinheiro circula. E assim, graças cada vez mais ao turismo de massa e cada vez menos ao exclusivismo da classe A gargalhada (A-A-A…), Santo André vai passando seus verões, sem perder a tranquilidade.

Não foi preciso reivindicar um policial permanente para a vila. Se alguém rouba algo, dizem os andreenses, avisa-se os operadores da balsa, e a cana aguarda o imprevidente larápio do outro lado da travessia.

Para muitos. O Costa Brasilis em Santo André está longe de ser único. Dezenas de milhares de brasileiros têm, cada vez mais, comprado seu lugar ao sol em resorts, sempre em módicas prestações.

Leia mais, no blog, e saiba quais são os aeroportos que ganharam mais passageiros nos últimos anos: http://voxpublica.com.br.

domingo, 30 de janeiro de 2011

A Campanha do Ódio de Glenn Back e a Fox News contra acadêmica de esquerda.

Do Portal Luis Nassif

A campanha de ódio da Fox News

Quando José Serra e Fernando Henrique Cardoso estimularam esse tipo de postura do jornalismo de esgoto contra seus (deles) críticos, incorreram na mesma irresponsabilidade. (Luis Nassif)

A Campanha do Ódio de Glenn Back e a Fox News contra acadêmica de esquerda.

Frances Fox Piven desafia ameaças de morte depois de provocações do âncora Glenn Beck

Frances Fox Piven não vai se esconder. Ainda não.


A acadêmica de esquerda de 78 anos de idade é a figura mais recente da campanha de ódio de Glenn Beck e sua legião de fãs. Enquanto ela cuida de se precaver ante as inúmeras ameaças de morte que se seguiram, ela afirma: "Eu não sei se eu estou com medo, mas estou preocupada".

"No início eu pensei que era engraçado, mas agora eu sei que é perigoso ... sua paranóia funciona melhor quando se pode imaginar um diabo. Agora que o diabo está comigo."

Nas últimas três semanas Beck foi implacável contra Piven, acusando-a em suas aparições na TV e em programas de rádio, de ser uma ameaça ao modo de vida americano, repercutindo as teses de um um ensaio que ela e seu falecido marido escreveram em 1966, como uma espécie de plano para derrubar a economia americana .

Chamado "The Weight of the Poor, a autora diz ser necessário integrar os mais pobres na siciedade americana com a ajuda governamental em ações sociais e de bem-estar e forçar o governo a introduzir uma política de garantia de renda. Para Piven, uma voz empenhada de esquerda, até pouco tempo atrás essa publicação era conhecida apenas nos círculos acadêmicos, mas pouco reconhecida fora deles, era apenas uma publicação em uma vida dedicada ao ativismo político e as teorias.

Para Beck, no entanto, Piven é uma ameaça direta para os EUA. Show após show, o comentador de direita tem demonizado Piven e enquadrando-a como parte de uma conspiração de décadas para assumir o país, que culminou com a eleição do presidente Barack Obama. A língua ferina de Beck resultou em uma onda de ameaças de morte contra Piven e seus colegas acadêmicos da Universidade da Cidade de Nova York.

As ameaças são violentas e - à luz do recente tiroteio da congressista do Arizona, Gabrielle Giffords - verdadeiramente assustadoras. Muitos aparecem no site de notícias de Beck, The Blaze. "Um tiro ... se mata", escreveu um. Outras são enviadas diretamente para seu endereço de e-mail ou os de seus colegas. Há tantos que ela tem contato com a polícia e esta semana irá solicitar a Universidade para fazer uma reclamação formal ao FBI.

Apesar do medo real de falta de segurança, ela se recusa a recuar. Certamente, para alguém retratada como um comunista revolucionária, a escolha de Piven, para o encontro com este repórter não poderia ser mais emblemático, um local chamado Centro Havana.

É típico de Piven. O brilho dos olhos da acadêmica se mantém firme quando fala de Beck. "Ele é um tipo muito neurótico e peculiar de pessoa. Eu não acho que ele seja capaz de uma discussão sadia", disse ela. E os seguidores de Beck? "Eles rastejam".

Piven se junta a um seleto grupo na lista de inimigos de Beck, que inclui o bilionário investidor George Soros, o ativista verde Van Jones e, morto há muito tempo, o presidente Woodrow Wilson. Piven compara Beck a uma versão século 21 do padre Charles Coughlin, um direitista da década de 30, padre e radialista, que muitos viram como um defensor do fascsimo nos EUA. "É muito perigoso. Padre Coughlin fundou um terceiro partido político. Glenn Beck tem o Tea Party. Deveríamos estar preocupados", disse ela.

A retórica conspiratória de Beck na Fox, que muitas vezes contas com apresentações em quadros-negros e - no caso de Soros - um show de marionetes, pode parecer um golpe bizarro de "jornalismo" mas isso tem repercussões na vida real. No ano passado, veio á tona o caso de Byron Williams com um caminhão cheio de armas e balas e com a intenção declarada de atacar grupos liberais em San Francisco que Beck havia mencionado. Ele foi parado pela polícia antes que chegasse ao seu detino, mas em uma entrevista na prisão Williams elogiou o apresentador da Fox como uma inspiração.

"Beck nunca disse nada sobre uma real conspiração, contra seus "inimigos", jamais defendeu a violência. Ele nunca vai fazer nada dessa natureza .... Mas vamos dar-lhe cada pedaço de prova de que isso poderia ser uma necessidade", afirmou Williams.

Esse tipo de declaração é suficiente para dar a Piven uma grande preocupação. "Eu estarei ensinando uma nova turma em breve e eu não sei quem vai estar lá", disse ela.

No entanto, ao mesmo tempo ela está animada. A atenção Beck deu-lhe uma oportunidade súbita de propagar as suas opiniões políticas. Ela foi entrevistada pelo New York Times, entre outros canais de notícias, e na semana passada ela apareceu em vários talk shows de televisão, incluindo uma ao ar na rival da Fox , o cabo do canal de notícias MSNBC.

Beck tem, de certa forma, conseguiu o que uma vida de ativismo radical se esforçaram para fazer: criar uma plataforma nacional para Piven, que é presidente honorária dos Socialistas Democráticos da América. Ela quer apresentar ideias de esquerda em um momento de crise económica e social em um cenário de mídia que normalmente os ignora e vê o "socialismo" como um palavrão.

"Esta é realmente uma oportunidade para conter a Fox News e Glenn Beck. Eu não sei se é possível, mas vou tentar. Também permite afirmar o valor da política que defendemos", disse ela .

Não será uma tarefa fácil. Beck tem uma rede de TV, e um gigante global de mídia por trás dele; Piven é uma professora idosa. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ela está em demanda. "Finalmente agora temos um megafone", disse ela.

Texto original: http://www.guardian.co.uk/media/2011/jan/30/frances-fox-piven-glenn-beck

sábado, 29 de janeiro de 2011

Brasil descobre o Egito

Por Eduardo Guimarães, em seu blog
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De repente, não mais do que de repente, os brasileiros descobriram um país chamado Egito, suas contradições e o sofrimento do seu povo, imposto por um regime ditatorial a que está submetido desde 1981, há exatos 30 anos, por obra e graça do ditador Mohamed Hosni Mubarak, quem, durante esse tempo todo, só disputou eleições consigo mesmo.

Apesar de ser um dos berços da civilização humana, porém, até há pouco nada sabíamos sobre o país além de que tem pirâmides, esfinges e do que nos informou Hollywood no decorrer da vida com seus filmes bobalhões sobre múmias egípcias que ressuscitam para nos aterrorizar ou com aquelas versões pasteurizadas sobre a saga de Cleopatra, a Rainha do Nilo.

Somos mantidos na ignorância pela mídia ideológica que controla as comunicações e até a própria cultura, no Brasil. Por isso, temos conhecimentos seletivos e limitados sobre a geopolítica mundial.

Sobre um país como Irã, no entanto, onde as eleições, ainda que pouco transparentes, pelo menos têm candidatos de oposição, supostamente sabemos muito, mas o que sabemos são informações filtradas que nos dão só o lado oposicionista da história por lá.

Só poderia ser assim mesmo, porque o Egito, à diferença do Irã, é uma daquelas ditaduras “do bem” que os Estados Unidos e a mídia “brasileira” poupam de críticas porque se submetem aos interesses geopolíticos, comerciais e estratégico-militares dos americanos.

Então, de repente, com a verdadeira avalanche de imagens que se abateu sobre o mundo dando conta da repressão que o ditador egípcio desencadeou sobre um povo aparentemente disposto a não aceitar mais viver sob seu regime de força, a mídia serviçal dos EUA teve que expor uma de suas ditaduras de estimação, contra a qual não costuma dizer um A.

Os choques entre população egípcia e as forças de repressão da ditadura, portanto, estão sendo de um grande didatismo para a humanidade, ao deixarem claras as hipocrisias americana e midiática, que mantêm regimes contrários aos EUA sob fogo cerrado enquanto silenciam sobre os regimes simpáticos à potência decadente do Norte por mais criminosos que sejam.

O Brasil nunca conheceu o Egito para além da versão hollywoodiana de sua realidade e de sua história, mas a tecnologia, porém, vai mudando isso. Se após tanto tempo finalmente os brasileiros descobriram que há ditaduras criticáveis e acima de críticas no Oriente Médio, foi graças à internet, que permitiu aos egípcios reprimidos contarem ao mundo a versão deles.

Não esperem editoriais furiosos contra o Egito, porém. Nem aqui, nem nos EUA. Em breve, assim que o ditador Mubarak conseguir enquadrar a população por meio dos bilhões de dólares em armas que os americanos despejam anualmente naquele país, aquela ditadura voltará para debaixo do manto de silêncio midiático.

Lula diz que Dilma na Presidência o faz dormir 'tranquilo'

Via Terror do Nordeste

Palavra do estadista

Lula diz que Dilma na Presidência o faz dormir 'tranquilo'


Em sua primeira viagem fora de São Paulo após deixar a Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou as realizações de seus governos na área da educação e criticou o que chamou de "lógica excludente do passado".

Nesta sexta-feira, Lula foi paraninfo e discursou a formandos da Universidade Federal de Viçosa (a 225 km de Belo Horizonte). Ele também recebeu o título de doutor honoris causa, oferecido pela instituição.

Em sua fala, Lula fez referência à presidente Dilma Rousseff. Disse que dorme "tranquilo sabendo que a Dilma está lá" na Presidência.

Foram 30 minutos de discurso, dos quais a maior parte foi lido em um texto pronto. Ele só falou de improviso no final, quando citou sua história de vida para pedir que os alunos não desanimem diante de dificuldades.

O ex-presidente disse aos formandos que, ao convidarem-no para ser paraninfo, "homenagearam o enorme esforço que o Brasil fez na educação nos últimos anos".

Em seguida, lembrou números de sua gestão, dizendo, por exemplo, que os investimentos em educação mais do que dobraram nos últimos oito anos.

Lula chegou a universidade com 45 minutos de atraso em uma BMW modelo X6. Estava acompanhado do ex-ministro Luiz Dulci e de assessores. O ministro da Educação, Fernando Haddad, esperava o ex-presidente no campus.

A comitiva chegou a Minas de jatinho. Lula dormiria em Viçosa e, neste sábado, receberá outra homenagem --uma comenda da Prefeitura de Ubá a ser entregue às 10h.

Ao ser abordado por jornalistas quando chegava a Viçosa, Lula disse que só dará entrevistas "daqui a três meses".

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

É muita história pra contar

Via Terror do Nordeste

Lula virou história


Por Rachel Bertol Para o Valor, do Rio

Valor Econômico - 28/01/2011



O governo mal acabou, mas uma simples consulta a livrarias virtuais indica, até o momento, aproximadamente 50 livros lançados com o nome "Lula" no título - fora os demais, sem a menção direta. O número é significativo se comparado, por exemplo, aos cerca de 15 disponíveis on-line, a partir da mesma ferramenta, com "Fernando Henrique Cardoso" ou "FHC". Enquanto o ex-presidente tucano é o principal autor de suas obras - nesse caso, há mais de duas dezenas delas sendo oferecidas -, Lula não assina livro algum, mas sua história tem potencial para inspirar uma bibliografia jornalística e acadêmica ainda maior, especialmente a partir de agora, nesta fase de balanços e análises (talvez) menos polarizadas.

Um dos biógrafos mais ativos do Brasil, Fernando Morais não tem dúvida: "Lulinha dá um livraço". Autor de clássicos como "Chatô, o Rei do Brasil" e "Olga", Morais gostaria de escrever um livro com o mesmo fôlego desses sobre o ex-presidente. E ele não é o único com planos editoriais a respeito de Lula. O jornalista Kennedy Alencar prepara um dos livros mais aguardados sobre os oito anos do governo, a ser lançado pela Publifolha, no qual vai contar mais sobre os bastidores da vida palaciana. A pesquisadora Denise Paraná, autora de "Lula, o Filho do Brasil" (editora Fundação Perseu Abramo) - base do filme homônimo de Fábio Barreto -, também reuniu material para um novo livro, desta vez sobre a simbologia em torno do líder político.

O sociólogo Francisco de Oliveira planeja publicar no ano que vem "A Formação do Avesso: Predação de Classe e Trabalhos de Sísifo", pela Boitempo. "Sempre começo pelo título", diz. Seu objetivo é revisar a história brasileira, mostrando como o "lulismo" se encontraria na culminância de uma nova estratégia de dominação, iniciada há meio século, que se daria pelo avesso, ou seja, com a participação das próprias classes dominadas.

O fenômeno do lulismo é controverso, até por causa de seu ineditismo, aspecto com o qual concordam Oliveira e um dos seus principais interlocutores - e opositores - nesse debate, seu colega André Singer, porta-voz da Presidência até 2007. Também em 2012, Singer vai lançar um livro sobre o lulismo, que se baseará na tese de livre-docência que defenderá neste ano na Universidade de São Paulo (USP). "Quando comecei a fazer essa análise, estabeleci um diálogo com as hipóteses do professor Francisco de Oliveira", afirma Singer. "Concordo com ele no sentido de que temos algo novo, mas não acho que seja às avessas, até porque a política que continua a ser executada contempla aspectos do programa original do Partido dos Trabalhadores [PT], como a inclusão social, apesar da incorporação de elementos que não estavam presentes inicialmente, de extração neoliberal."

Toda a polêmica, de acordo com Fernando Morais, só faz apimentar uma virtual biografia. "É uma figura que merece algo mais exaustivo, acho que alguém vai fazer. Lula é adorado pela população, mas tem uma oposição dura. O Lula demonizado dá um sabor especial ao livro. Além disso, ele não é casmurro, o que ajuda o biógrafo. Este é um trabalho no qual eu tenho muito interesse e convivi bastante com o Lula."

No momento, entretanto, Morais prefere deixar o projeto amadurecer: "Pedi, por meio de amigos comuns, para gravar com Lula uma meia dúzia de depoimentos longos, sobre passagens importantes do governo, mas ele disse para desistir, porque ou sairia abobrinha ou perderia amigos. A poeira na alma dele ainda não baixou. Um dia, se topar, torço para que chute a bola para o meu lado."

Já o coordenador editorial da editora Fundação Perseu Abramo, Rogério Chaves, está mais otimista quanto à possibilidade de obter depoimentos do ex-presidente. A fundação tem entre seus propósitos contar a história do PT, e a ideia é preparar uma continuação do livro "Lula, o Filho do Brasil", que tem apresentação de Antonio Candido e se concentra no período de formação do filho de dona Lindu. A editora negocia a contratação de um novo autor. "Queremos amadurecer a ideia com o próprio Lula", conta Chaves. "A ideia é discutir menos o Lula como mito e sim como agente de um momento de grande mudança. Será necessário ter nessa edição a participação de uma pessoa com leitura política, que vá pegar também a fase do governo. Pensamos em aproveitar este ano, quando as informações estão mais recentes."

Além disso, a editora da fundação iniciou, no ano passado, a publicação de coleções técnicas sobre os dois mandatos. Uma delas é "2003-2010: o Brasil em Transformação", na qual serão lançados mais quatro volumes neste ano - sobre políticas sociais, direitos humanos, estatais e saúde.

A dificuldade de escrever sobre a trajetória do ex-presidente, segundo Denise Paraná, deve-se ao fato de Lula raramente dar depoimentos. "Até hoje, ele só deu depoimentos longos sobre a sua vida para a pesquisa que eu realizei. Foram muitos meses de entrevista, horas de conversa, no início dos anos 1990." Ao longo desses anos, Denise travou amizade com a família de Lula e frequenta casamentos e festas de Natal dos irmãos e dos sobrinhos dele. Já coletou amplo material sobre a construção simbólica do personagem, no Brasil e no exterior.

"Não me interessam tanto o lado político partidário, as disputas ou o balanço do governo. Quero escrever sobre a visão de mundo dele, destacando os aspectos subjetivos, ideológicos, culturais. Há muitos anos, eu tenho conversado com a família toda, observado como enfrentam as situações etc. Em "Lula, o Filho do Brasil", eu já trabalhava por meio dessa corrente da psico-história", diz.

No novo livro, vai analisar como Lula estaria contribuindo para o país se livrar do chamado "complexo de vira-lata", termo cunhado por Nelson Rodrigues quando observava a seleção nacional jogando futebol com potências estrangeiras. Segundo Denise, o brasileiro está entre os cinco povos mais otimistas do mundo quanto à mobilidade social, e Lula seria um símbolo importante desse ânimo.

"Existem pessoas que conseguem ascender socialmente. Em geral, saem da classe social baixa e se adaptam à nova classe. Deixam um lugar para ocupar outro. Mas com o Lula foi diferente: ele ocupa os dois lugares. Ele tem orgulho de ser o incluído e ao mesmo tempo o orgulho de ser o superexcluído. Isso dá um nó na cabeça da elite. Lula constrói espaço novo, a partir da comunicação direta com a população. Do ponto de vista simbólico, ele quebra paradigmas e modelos o tempo todo."

Em suas pesquisas no exterior, Denise chegou a se impressionar com a força do personagem, que chegaria a substituir Pelé como principal referência a respeito do país. "Muita gente que antes nem sabia onde fica o Brasil agora fala do país através da figura do Lula. É como se ele tivesse posto o Brasil no mapa-múndi."

Mas Denise reconhece que se trata de figura controversa: "Há quem diga que ele pratica populismo de direita, enquanto outras pessoas afirmam que é completamente revolucionário. Eu ouvi isso na França. Mas não estou dizendo que tudo deu certo no governo. O fato é que há muita coisa para estudar a respeito desses últimos oito anos: foram infinitas e profundas as transformações."

Boa parte do que diz poderia servir de subsídio a uma explicação do "lulismo". De acordo com André Singer, a base do fenômeno, que se configurou claramente a partir da reeleição de 2006, se encontra nos estratos de mais baixa renda da população - sendo o Bolsa Família um ingrediente não desprezível nesse conjunto. "É uma camada da população com perspectiva de mudança de renda, mas pode ser considerada conservadora por querer essas mudanças sem ameaça à ordem estabelecida. O lulismo tem elementos carismáticos, sobretudo no Nordeste, mas é um movimento real da sociedade, democrático. Embora não formalizado, tem fôlego para durar muitos anos", afirma.

Para Oliveira, sem entender o lulismo dificilmente se entende o Brasil de hoje: "Mesmo porque o lulismo nos devora". Em sua opinião, Lula é um ilusionista: "Ele tira coelho da cartola o tempo todo. Não é o escravismo ou o patrimonialismo que explicam o atraso atual. Não se trata de uma herança de 500 anos. No livro, vou fazer a revisão da história para mostrar como essa formação do avesso se refere aos últimos 50 anos, a uma escolha das camadas dominantes. Houve uma opção pelo atraso. Cria-se a pobreza, que não é brasileira, como forma de controle e dominação. Lula tira benefício disso. Seu governo foi a culminância desse processo. Não houve avanço institucional nestes oito anos. Assim como as classes dominantes, Lula dança sobre a miséria para construir a sua popularidade."

O Brasil vive uma "falsa euforia", diz Oliveira. "Sobraram para o país os produtos baratos. É a euforia de quem chegou atrasado ao baile, a celebração da derrota da vitória. Todos estão contentes, mas sobre cultura e cidadania não temos nada. Chegou-se aos bens de consumo, mas não à civilidade", comenta. "Estamos vivendo um fascismo do consumo. As pessoas se detestam, desapareceu qualquer traço de solidariedade pessoal e social. Os valores que a sociedade deveria cultivar, ela não cultiva. Há uma tensão fascista no ar. Sempre que um materialista começa a relacionar feitos sociais, pode desconfiar que atrás existe um cheiro de fascismo." O sociólogo, que é ex-petista, reitera: "Fizeram do Lula a imagem idealizada do anjo operário, o que ele não é. Faz muitas décadas que ele deixou de ser operário. A tragédia brasileira é imensa."

Como observa Morais, "herói de bronze só tem em praça pública" e a figura de Lula, como se vê, está longe do consenso. Por enquanto, na imprensa e em seminários, o momento é dos primeiros balanços. Especula-se qual seria sua participação na gestão da sucessora, Dilma Rousseff, e se voltaria a se candidatar à Presidência, embora Denise Paraná, até o momento a maior especialista na biografia lulista, aposte que não há volta: "Lula nunca andou para trás. Quando saiu da presidência do sindicato, disseram o mesmo, que ele voltaria, mas não foi o caso. Sempre foi assim na trajetória dele. O Brasil agora já fica pequeno para Lula, que tem a possibilidade de fazer muita coisa pelo mundo. Duvido que se candidate novamente, até porque entrou para a história como o presidente mais popular do país".

Kennedy Alencar, que cobriu os dois mandatos pela "Folha de S. Paulo", em Brasília, fez questão de esperar que Lula deixasse o Planalto para terminar seu livro sobre o governo só agora. "Achei melhor assim, para ter uma perspectiva mais ampla", afirma Alencar, que começou a redigi-lo de maneira mais intensa no ano passado. Já publicou algo do que saiu na própria "Folha", em dezembro. "Desde a eleição do Lula em 2002, pensava em escrever algo, com material apurado que eu não tinha como usar no dia a dia. Reuni muitos bloquinhos de anotação ao longo dos anos. Eu sempre escrevia um pouco e guardava."

Sua intenção é identificar os piores e melhores momentos, contar sobre a sucessão de escândalos enfrentados, como o caso Waldomiro Diniz e o mensalão, falar da crise econômica, das políticas sociais etc. "Vou detalhar um pouco mais. Ainda vou ter algumas conversas. A gente nunca para de apurar. Estou com todo o material arquivado, mas quero tempo para fazer com mais calma." Haveria ainda alguma revelação importante? "Eu acho que sim, porque jornalista nunca consegue mostrar tudo. A relação entre imprensa e governo é naturalmente tensa, sempre vai ter algo para descobrir." Além disso, o próprio Lula gostaria de voltar ao assunto do mensalão este ano, como lembra o jornalista: "É muita história para contar".

Não veremos na velha mídia - Caso Cutrale

Do Escreinhador

Caso Cutrale: trabalhadores sem-terras são inocentados e processo é arquivado

publicada sexta-feira, 28/01/2011

por Juliana Sada

Em janeiro deste ano, a Justiça decidiu pela libertação dos trabalhadores sem-terra acusados de praticar crimes durante a ocupação de uma fazenda na qual está instalada a empresa Cutrale, produtora de suco de laranja. Além disso, o processo foi arquivado pela 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

De acordo com o desembargador Luis Pantaleão, em seu relatório, não havia indícios que ligassem os acusados aos crimes alegados. Além disso, o desembargador citou problemas no processo. A prisão preventiva foi decretada antes do recebimento da denúncia e ainda com a investigação em curso, para o desembargador não havia indícios de que os acusados trariam algum empecilho ao processo. O encarceramento foi baseado também na suposta “imoralidade” dos trabalhadores, acusação que não sustenta a prisão preventiva.

Já o processo foi trancado por inépcia da denúncia, ou seja, por não possuir os requisitos legais para instauração de um processo.

A ocupação
Em setembro de 2009, cerca de 250 famílias ocuparam uma fazenda pertencente à Cutrale, para denunciar a grilagem de terras pela empresa. De acordo com o MST, a área ocupada pertence à União e a Cutrale estaria se apropriando ilegalmente da terra. A ocupação durou doze dias, entre 28 de setembro e nove de outubro, e terminou por ordem judicial.

O episódio teve intensa repercussão na mídia, sobretudo por conta da derrubada de pés de laranja da fazenda pelos manifestantes, como forma de protesto.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Caminhos políticos: PT continua na vanguarda

Do blog do Alon

As leituras (27/01)

O PT vangloria-se de ter turbinado a classe média, mas a classe média que vem aí está mais para o conservadorismo. Daí que enquanto o PSDB se ressente da diluição do suposto viés social democrata o PT dá um jeito de achegar-se ao eleitor centrista

Há evidências de que o PT vem fazendo mais rapidamente do que o PSDB a leitura correta das urnas. Talvez seja uma questão de força. Há no PT um polo inconteste (Dilma Rousseff, com o respaldo do antecessor), enquanto no PSDB corre solta a disputa pelo manche. Daí o PT exibir a esta altura bem mais disciplina.

Disciplinadamente, o petismo empreende talvez a etapa final da marcha rumo ao centro. Temas como a descriminação do aborto, a revisão da Lei da Anistia e o controle social/estatal sobre a comunicação foram para o arquivo. Farão companhia à reforma agrária no mausoléu em homenagem ao ideólogo desconhecido. Nem que seja até segunda ordem.

Sem falar na brevíssima passagem do secretário antidrogas, que se animou a defender em público o afrouxamento das penas dos pequenos traficantes e acabou rapidamente na editoria de exonerações do Diário Oficial.

O PT precisou confrontar-se ano passado com uma realidade complicada. Apesar dos altíssimos índices de popularidade do governo, e da quase unanimidade em torno do presidente, a sucessão arrastou-se para o segundo turno e a vitória final, se foi por margem decente, não chegou a ser confortável.

A explicação óbvia para a assimetria está no deslocamento de gordos contingentes da classe média para uma posição antipetista. Engrossam o caldo os órfãos da ética na política, mas não só.

O PT vangloria-se de ter turbinado a classe média, a nova presidente diz querer transformar o Brasil num país de classe média, mas a classe média que vem aí está mais para o conservadorismo. Daí que enquanto o PSDB se ressente da diluição do suposto viés social democrata, o PT dá um jeito de achegar-se ao eleitor centrista. Ou direitista.

Afinal, esta eleição já foi. E outras eleições vêm aí. E o que importa é manter o poder.

O movimento para o PT é fácil de fazer, pois a legenda consolidou a imagem de amiga dos pobres. A guinada ao centro poderá ser feita sem maior prejuízo político, pois faltam — até o momento — alternativas viáveis à esquerda. Estão todas a bordo.

A curiosidade é saber com que estratégia o novo governo petista vai administrar, na comunicação, maldades como o reajuste esquálido do salário mínimo e heresias como o repasse camarada dos aeroportos aos capitalistas privados.

Já o PSDB anda ameaçado de enveredar por um caminho perigoso. Todas as pesquisas mostram que o eleitor médio é conservador nos costumes e quer estado protetor na economia e nas questões sociais. Mas alguns tucanos ensaiam ficar na contramão em ambos os vetores. Liberais na economia e vanguardistas na esfera comportamental. Tipo defender a legalização do aborto e das drogas e combater o aumento do salário mínimo.

Mas o jogo não está jogado. Parece haver alguma disposição no PSDB da Câmara dos Deputados para criar problemas reais à base do governo na votação do mínimo. Ainda que haja dois vetores contraditórios agindo.

Um pretende credenciar-se por ter encontrado a solução intermediária que garantiria ao mínimo mais do que deseja o governo, mas sem subi-lo muito.

O outro acredita que o partido ganha mais se aparecer aos olhos do público defendendo os R$ 600 que o candidato tucano disse no ano passado que daria se fosse eleito.

De baixo, de cima

As grandes transformações políticas exigem disposição de confronto dos de baixo, mas também precisam de divisões sérias entre os de cima.

Porque a ausência do segundo quesito costuma resultar no sacrifício de quem, em baixo, decide colocar a cabeça de fora.

As revoluções obedecem a etapas bem definidas. Até um certo ponto há o crescimento da desordem. Operada a passagem do bastão, as energias concentram-se na reabilitação da ordem.

É o que passa na Tunísia. Já no Egito, será preciso verificar a existência ou não de clivagens importantes na cúpula. Se é mais Tunísia ou mais Irã. Ou Síria.

Vai bem

A boa surpresa desta largada de governo é a ministra dos Direitos Humanos.

Maria do Rosário vem provando que o realismo na política não é obrigatoriamente sinônimo de capitulação.

E apareceu com, até agora, a melhor ideia vinda do extenso primeiro escalão: uma força-tarefa com autonomia e autoridade para agir contra a tortura nas prisões.

Fazer mais, e arrumando menos confusão inútil. Eis um caminho

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (27) no Correio Braziliense.

twitter.com/AlonFe

youtube.com/blogdoalon

Constituição e Ideologia

Via blog do Favre

27/01/2011Orientação de Dilma é menos ideologia e mais Constituição

João Bosco Rabello – O Estado de S.Paulo

O governo está empenhado em obter credibilidade para seu compromisso público pela liberdade de imprensa. Não considera que no período Lula ela esteve realmente ameaçada, mas não quer ministro reverberando teses radicais como o controle de conteúdos.

É o que difere o início do governo Dilma do seu antecessor. Embora tenha avalizado a liberdade de expressão, o ex-presidente Lula permitiu que seu entorno mantivesse acesa a chama da censura. Acenava ao público radical do PT com o controle da informação, mas dizia aos jornalistas que não se preocupassem. Era maior que o partido e isso lhe bastava.

Dilma escolheu o discurso constitucional. Quer viés técnico no debate sobre a regulamentação da mídia e não fixa prazo para a conclusão do projeto. Essa linha tem orientado a ação e o discurso dos ministros Paulo Bernardo, das Comunicações, e Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação da presidência da República (Secom) – esta em contato diário com a presidente.

Ambos defendem o fim do debate ideológico, até porque Dilma não tem a liderança de Lula no PT e precisa impor o limite constitucional ao tema de forma clara e pública.

PORTAS FECHADAS

Via Portal Luis Nassif

Serra acusado de vazar informações contra o PSDB

Os amigos do Serra


Aécio e Alckmin isolam Serra em eleição no PSDB

Mineiro e paulista tentam impedir que ex-governador assuma comando da sigla

Documento articulado às pressas obtém adesão de 53 deputados do partido e defende que Sérgio Guerra continue

CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
MARIA CLARA CABRAL
DE BRASÍLIA

Aliados do senador eleito Aécio Neves (MG) e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, endossaram uma operação que fecha as portas do comando do PSDB para o ex-governador José Serra.

Derrotado na corrida presidencial, Serra manifesta interesse pela direção da sigla para se manter em evidência.

Numa articulação desenhada anteontem, alckmistas e aecistas lideraram abaixo-assinado pela recondução do senador Sérgio Guerra à presidência do partido.

Consultado sobre a redação do abaixo-assinado, Aécio disse que o apoiaria desde que tivesse aval de Alckmin. Segundo a Folha apurou, Guerra ligou para Alckmin na manhã de ontem para falar sobre o documento.

Admitindo não ter consultado Serra, Guerra nega ter participado da elaboração do documento idealizado por senadores do PSDB. "É um documento dos deputados."

A operação foi posta em prática na manhã de ontem, durante reunião da bancada do PSDB para eleição de Duarte Nogueira (SP) para a liderança do partido na Câmara, quando mais adesões à ideia foram obtidas.
"Não sabia de nada", disse o presidente do PSDB de São Paulo, Mendes Thame, que assinou o documento.

O abaixo-assinado reuniu assinatura de 53 dos 55 deputados presentes à reunião.

"É um aviltamento à democracia interna do PSDB tentar reeleger o presidente em reunião para escolha do líder", protestou o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (SP), defensor do nome de Serra para presidir o partido.

"Houve um rolo compressor. Eles assinaram sob constrangimento", emendou.
Segundo participantes da costura, a recente movimentação de Serra precipitou a elaboração de um abaixo-assinado em favor de Guerra.

O ex-governador manifestou disposição de participar da reunião dos deputados, o que foi encarado como sinal de que pretende interferir nos rumos do partido.

Um dos articuladores da operação, o senador Cícero Lucena (PB) disse "não entender a reação". "Serra nunca me disse que era candidato à presidência do partido."

Aecistas também atribuíram a Serra o vazamento da informação de que o publicitário indicado pelo ex-governador para produção do programa do PSDB é réu no processo do mensalão mineiro.

Aliados de Aécio e tucanos de Pernambuco deram início à campanha para nomeação do senador Tasso Jereissati (CE) na presidência do Instituto Teotonio Vilela -outro destino cogitado por Serra.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2701201102.htm

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O fim da esperança?

Por Rui Martins*, do Direto da Redação

Há certas coisas que valem a pena ler e ouvir, como, por exemplo, um político escrever um livro filosófico sobre a política e, nas suas entrevistas, demonstrar um saber e uma visão crítica profunda da história humana da participação política.

É o caso, por exemplo, de Vincent Peillon, deputado francês na União Européia, um professor doutor em filosofia, que chegou a membro da direção do Partido Socialista, com a publicação de um livro sobre a política como uma introdução ao século XXI.

Para ele, os grande momentos decisivos na nossa história não foram assumidos por políticos ou por partidos no poder mas desencadeados por pessoas não envolvidas em partidos. Muitas vezes são simples e anônimos cidadãos como o vendedor ambulante que, num momento de desespero se imolou pelo fogo, desencadeando um movimento popular e provocou a queda do ditador Ben Ali na Tunísia.

Foram também cidadãos anônimos não políticos que resistiram ao nazismo na França e foi um jornalista e escritor, Bernard Lazare, o primeiro defensor polemista do capitão Alfred Dreyfus e detonador do célebre Caso Dreyfus.

O mesmo se pode dizer de Socrates - apesar de recusar entrar na política, suas considerações sobre a sociedade e a participação dos cidadãos foram das mais importantes para a estruturação política da sociedade. En passant, lembra terem sido sindicalistas e não políticos os autores das mudanças na Polônia e, nessa mesma linha de idéias, podemos também dizer terem sido sindicalistas brasileiros do ABC os detonadores de uma nova era política no Brasil. Houve uma evolução política, pois os sindicalistas fundaram o PT mas a célula detonadora era constituída de operários metalúrgicos.

E para Vincent Peillon vivemos hoje um momento crítico da crise da esperança, porque os homens, depois de tantas esperanças frustradas, têm medo de nutrir novas esperanças e chegam mesmo a ter medo do futuro. Durante vinte séculos, o homem ocidental viveu sob a esperança religiosa, voltado para o fim de uma época que seria sua salvação. A seguir, surgiu outro tipo de esperança, oferecida pela religião secular, anunciando o fim da história ou da pré-história, um mundo novo com o fim da luta de classes.

Mas o século XX trouxe muitas decepções, pois muitos dos anunciadores do mundo novo, do homem novo (os nazistas também falavam no surgimento de um homem novo) acabaram mortos no holocausto, nas guerras e nos expurgos.

E hoje, neste começo do século XXI, a descrença impera misturada com um medo do futuro, porque o futuro é o desconhecido, é a manipulação genética, o desequilíbrio ecológico do planeta com catástrofes provocadas pelos homens. E os homens se agarram no presente com medo do futuro.

Vincent Peillon toca também num tabu evitado pela grande maioria – a criatividade da geração futura está sendo comprometida pelo imobilismo causado pela influência da televisão sobre as crianças. A denúncia ainda circula timidamente entre educadores independentes, mas qualquer reforma escolar está comprometida, diz ele, quando se sabe que a maioria dos escolares passam quatro horas por dia diante da televisão. O que leva à discussão dos espaços públicos estruturados segundo os interesses privados ou à privatização atual dos espaços públicos.

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Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.

A necessidade de transformações

Via blog do Noblat
POLÍTICA

Dilemas tucanos

Neste início de ano, o PT e os partidos da base aliada estão mudando, procurando ajustar-se à realidade do governo Dilma. O modo como funcionaram nos últimos anos e se relacionaram com o Planalto não se coaduna com os novos tempos. O descompasso mais visível acontece com o PMDB.

Na oposição e, especialmente, no PSDB, a necessidade de transformações é ainda maior. Nada mais natural, após a terceira derrota consecutiva para Lula e o lulismo. Se o governismo, bem-sucedido nas urnas, é obrigado a se renovar, o que dizer das oposições?

O principal partido oposicionista tem que contrariar aquilo a que nos acostumamos a ver como sua natureza mais profunda. Depois de ter ficado famoso por sua dificuldade de tomar decisões, por sua incapacidade de sair “de cima do muro”, ele agora tem que explicitar suas diferenças e contradições.

Sem vida partidária real (como ficou claro em 2009, quando não conseguiu fazer prévias entre seus filiados por sequer saber quantos são), tudo no PSDB se resolvia “en petit comité”. Na sua história, ficaram famosas algumas cenas, como a escolha do candidato presidencial em 2006, decidida na mesa de jantar de um luxuoso restaurante em São Paulo, presentes quatro pessoas.

Hoje, a tendência quase atávica que os tucanos têm de evitar o dissenso não se sustenta mais. Seu medo do confronto interno terá que ser superado, pois não enfrentá-lo é o caminho certo para um novo fracasso em 2014.

O fulcro do problema é o serrismo, o pequeno, mas loquaz grupo de seguidores do ex-governador José Serra. Como tem um espaço desproporcional na chamada “grande imprensa” e conta com a simpatia de jornalistas nos principais veículos, acaba parecendo maior do que é. Os serristas são poucos, mas fazem barulho.

Apesar de seu pífio desempenho na eleição (pois foi pior que Alckmin no primeiro turno e só chegou ao segundo pegando carona em Marina), Serra quer ser a liderança maior e o candidato natural do PSDB à sucessão de Dilma. Acha que pode repetir a trajetória de Lula: de tanto tentar, acabar chegando à Presidência.

Sonhar é um direito de todos, mas não faz sentido querer que o conjunto da oposição se submeta a projetos pessoais, com chances de sucesso remotas (para dizer o mínimo). As figuras lúcidas do partido percebem que a carreira política do ex-governador acabou.

A esse núcleo serrista se agregam outras correntes tucanas igualmente presas ao passado, nenhuma capaz de representar uma opção nova para o Brasil. Seu expoente mais ilustre é Fernando Henrique, que, quando fala da presidenta, insiste em um discurso de rejeição invejosa que perdeu a graça e a inteligência.

Quem não é serrista no PSDB não tem escolha: ou se submete ou assume publicamente sua discordância. Em outras palavras, contraria o típico peessedebismo de deixar as coisas andar para ver como ficam.

No fundo, isso é bom para o PSDB, ao obrigá-lo a se manifestar sobre o que pretende. Melhor a discordância exposta ao sol que o consenso falso. A briga de uns contra os outros sempre existiu em surdina.

Esta semana, um episodio até cômico ilustra os dilemas tucanos. É pequeno, mas revelador.

O PSDB tem, agora no início de fevereiro, seu tempo de propaganda partidária do semestre. É uma janela sempre importante e, agora, ainda mais, por ser a primeira oportunidade de reencontro do partido com a grande maioria da população, somente atingível pela televisão.

O natural seria aproveitá-la para aquilo que os marqueteiros chamam reposicionamento. Seria uma boa hora para mostrar-se com a identidade que o partido adotará nos próximos quatro anos.

Pois bem, pela insistência do serrismo em protagonizar o programa, o resultado é que ninguém o estrelará. Nem Serra, nem Aécio aparecerão, e só seu presidente e FHC poderão ser vistos. Ou seja, a cara do PSDB continuará a ser a de sempre.

Até quando o PSDB estacionará em impasses desse tipo? Quando é que a maioria vai mostrar à minoria que seu tempo passou?

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

EMPREGOS EM ALTA. ESTÁ FALTANDO MÃO DE OBRA.

DO BLOG DO FAVRE

25/01/2011Empresas investem mais para reter funcionários

Medo de apagão de mão de obra leva a aumento de vagas de trainees, e estagiários, além da oferta de mais benefícios

Paula Pacheco – O Estado de S.Paulo

Há três meses a Shell tenta contratar cinco profissionais na área de exploração e produção de petróleo e gás. São vagas de geofísico de desenvolvimento, petrofísico de carbonatos, engenheiro de reservatório, geólogo de carbonatos e interpretador de sísmica. O salário inicial varia de R$ 6 mil a R$ 16 mil, de acordo com a experiência do candidato.

A dificuldade da Shell é a mesma de outros tantos setores. E, apesar da desaceleração da economia brasileira prevista para este ano, a escassez de profissionais vai continuar, preveem empresas e especialistas.

Empresas mais cautelosas têm dedicado parte de seus investimentos à retenção de funcionários. Foi o que fez a construtora e incorporadora Gafisa. “São as dores do crescimento”, diz Rodrigo Pádua, diretor de Gente e Gestão da empresa sobre a falta de profissionais na construção civil. Segundo Pádua, os programas internos de formação de profissionais já começaram a ganhar expressão. A empresa tem atualmente no seu quadro 550 estagiários. Há cinco anos eram 40.

A empresa também turbinou o programa de trainees com mais vagas. Cinco anos atrás eram seis vagas para 4 mil inscritos. No ano passado foram 15 mil inscritos para 40 vagas. “A preocupação passa a ser a retenção desses profissionais, porque eles podem ser recrutados pelo mercado”, explica Pádua.

Na construção civil, o aumento de produtividade tornou-se um estratégia importante. “Todo mundo está partindo para processos com menos mão de obra”, confirma Paulo Aridan Mingione, diretor Regional de Construção da Odebrecht. Segundo ele, a dificuldade em encontrar profissionais tem elevado, em alguns casos, o prazo de conclusão da obra. “São até três meses a mais de custo fixo que temos de absorver porque faltam profissionais”.

A JSL, empresa de logística, optou pela busca de profissionais entre os parentes de seus funcionários. “No nosso caso não basta ter carteira de habilitação para dirigir um caminhão. A característica do nosso negócio prevê que o motorista, que é treinado por pelo menos 30 dias, saiba do setor em que vai atuar, do tipo de produto que vai transportar”, diz a diretora corporativa Irecê Andrade.

A companhia aérea Gol optou por um centro de formação de mão de obra. O Instituto Gol, inaugurado em dezembro em Confins (na Grande Belo Horizonte), dá treinamento a futuros profissionais da área de manutenção de aviões. O centro de manutenção da Gol fica na cidade.

Rodolfo Eschenbach, diretor da área de Gestão de Talentos da consultoria Accenture, explica que o apagão de mão de obra aconteceu porque as empresas brasileiras não estavam preparadas para o crescimento tão rápido da economia. Uma alternativa é investir na retenção de profissionais com o aumento de salários e planos de carreiras. “É preciso pensar sempre em como manter a pessoa feliz para que ela não seja corrompida por um salário mais alto”, diz.