Chegamos aos anos 50: “O que eu mais gostei foi da geladeira”
por Luiz Carlos Azenha
No dia seguinte à eleição de Dilma Rousseff, no segundo turno, fui a uma cidadezinha da Grande São Paulo entrevistar beneficiários de programas do governo federal. Encontrei gente que só recentemente tinha recebido luz elétrica em casa. E me encantei com uma senhorinha que disse que tomar banho de água quente, no chuveiro, era “dignidade”. Pois é mesmo curioso que em pleno século 21 tenha gente no Brasil ainda sem energia elétrica. Simplesmente foram esquecidas e deixadas para trás. O capitalismo brasileiro… está chegando aos anos 50 [dos Estados Unidos].
Por isso resolvi reproduzir aqui uma das várias reportagens que o Fernando Rossas me mandou por e-mail:
Maria aposentou lamparina
19/12/2010
do Diário do Nordeste, sugestão do Fernando Rossas
Sentados na sala da pequena casa de cinco cômodos, o seu Roque Ferreira da Silva, de 72 anos, e a esposa, a dona Maria Ferreira da Silva, de 60 anos, desfrutam hoje de uma alegria que, nove meses atrás, não dispunham. Todo dia, assistem, “lá pra de tardezinha, uma novelinha na televisão”.
No distrito Monte Alegre, em Canindé, município a 120 quilômetros de Fortaleza, cada residência da Barra do Cancão, – onde seu Roque e dona Maria moram – recebeu três lâmpadas e a instalação de tomadas pelos cômodos da casa, logo que foi instalada a energia elétrica, em fevereiro deste ano.
“Ave Maria, é bom demais!”, exclama ele com um sorriso de orelha a orelha enquanto continua assistindo à televisão que ganhou dos três filhos, os quais há muito tempo saíram de casa. O aparelho de DVD foi outro presente que, junto com a geladeira e o som stereo – “comprados em nove parcelas no crediário lá em Canindé” – animam os dias do casal.
Mudança radical
Em uma terra onde a maioria das pessoas cria animais, seja galinhas ou cabras (como seu Roque), a mudança com a chegada da energia elétrica foi realmente marcante. “O que eu mais gostei foi da geladeira”, adiantou dona Maria quando perguntada das melhorias com a chegada da energia. Tendo que salgar todas as carnes para não apodrecer, além de não ter como conservar as frutas e verduras compradas, ela, agora, guarda tudo na geladeira.
Usufruindo dos benefícios
Na companhia do único neto, criado por eles, seu Roque e dona Maria souberam aproveitar bem aquilo que a energia elétrica pode oferecer. Cansados de carregar baldes e tonéis com água do açude da Barra do Cancão, os dois compraram, também com a ajuda dos filhos, um motor elétrico para bombear a água até a casa deles. “Mas é só pra gastar, ninguém bebe não”, avisou dona Maria. A água bebida por eles vem da chuva e, agora, é gelada.
Mais economia
E até os gastos do casal foram minimizados com a chegada da energia elétrica na residência. Quando não dispunham da “luz”, tinham que comprar querosene para as lamparinas, velas e pilhas para as lanternas, além de abastecer os botijões de gás que alimentavam os lampiões. “Rapaz, era horrível. Se usasse muito, secava rápido demais, aí tinha que ir lá em Canindé pra mandar encher de novo”, relembram. Aposentado, seu Roque foi enquadrado no programa Baixa Renda da Coelce desde a aquisição do serviço e, mensalmente, “ainda não veio mais que R$ 14,50 na conta”.
No primeiro ano com energia elétrica, seu Roque e dona Maria já estão se preparando para as festas de fim de ano, quando filhos e netos vão comemorar na casa dos pais. Com geladeira, som, televisão, DVD, seu Roque já anunciou que a festa vai ser das boas, com muita comida, bebida e tudo mais iluminado. “Ô, rapaz! Vem todos comer um ´carneirim´ assado aqui, né… Vai ser uma beleza! Pense aí!”, animam-se só de lembrar.
ARMANDO DE OLIVEIRA LIMA
ESPECIAL PARA ECONOMIA
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