As curvas do articulista
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De fato, nem é preciso entender tanto de economia. Nem para ver que não se pode julgar o todo pela parte, como Hélio Schwartsman argumenta na Folha de S.Paulo, nem para perceber que o filósofo fez uma curva muito hábil para fugir do assunto. O colunista comenta o Occupy Wall Street e seus derivados. Digo que ele é hábil porque argumenta muito bem e embasa sua tese. Não nego que concordo com a ideia principal do texto, publicado dia 20, que diz que não se pode generalizar e apontar o dedo para todos os banqueiros dizendo que são todos malvados. Mas não é disso que se trata, e aí vem a curva.
Não estive em Nova York, mas conversei com alguns dos ocupantes da praça em frente à Catedral de St. Paul’s, em Londres. Eles não demonstravam ódio aos banqueiros enquanto pessoa. Até demonstravam compreensão. Um deles me disse que muita da comida que sustenta os cerca de 150 acampados vem de doações, inclusive de banqueiros. E que eles sabem que fazem parte de um sistema podre, que alimenta a desigualdade. Sabem que seu trabalho é a causa de muitas das coisas erradas contra as quais o movimento está lutando. Eles concordam com a luta, não com o seu trabalho. Eles veem no movimento Occupy the London Stock Exchange (Ocupem a Bolsa de Londres) ou em qualquer outra das iniciativas-irmãs pelo mundo um tanto de razão. Mas têm que trabalhar e sustentar as crianças, como diz o clichê.
Com isso tudo, não quero dizer que os banqueiros são bonzinhos e apenas vítimas sem alternativa do sistema. Tampouco quero apontá-los como vilões. Alguns são bastante conscientes do mal que causam e persistem por vontade. Outras pessoas, diretamente envolvidas com o mercado financeiro ou não, vão deixando as coisas continuarem por não enxargarem muita opção. Um terceiro grupo não gosta de ficar só assistindo e vai pra rua. Pode não ter muita certeza do que quer ou não apresentar soluções concretas, mas está gritando que como as coisas estão elas não podem continuar. E não está falando por si, mas pela maioria que não está ganhando os lucros do mercado financeiro. Pelos 99%.
De fato, nem é preciso entender tanto de economia. Nem para ver que não se pode julgar o todo pela parte, como Hélio Schwartsman argumenta, nem para perceber que ele fez uma curva muito hábil para fugir do assunto. O colunista da Folha comenta o Occupy Wall Street e seus derivados. Digo que ele é hábil porque argumenta muito bem e embasa sua tese. Não nego que concordo com a ideia principal do texto, publicado dia 20, que diz que não se pode generalizar e apontar o dedo para todos os banqueiros dizendo que são todos malvados. Mas não é disso que se trata, e aí vem a curva.
Atribuir aos manifestantes “forças profundamente reacionárias” do nosso psiquismo porque eles defenderiam “um igualitarismo primitivo baseado no escambo e na aversão às tecnologias” é uma ofensa à inteligência do leitor. Criticar a desigualdade não significa defender igualitarismo, mas igualdade. É justamente para criticar o “olho por olho, dente por dente” que corrói o capitalismo financeiro que as pessoas estão nas ruas. Para propor solidariedade. E não consigo achar de onde vem a ideia de “aversão às tecnologias” ao falar em um movimento que ganhou força pelo Facebook antes de tomar as ruas. Falta honestidade intelectual nessa tentativa furada de engambelar o leitor. Ele não é trouxa!