sexta-feira, 22 de julho de 2011

As mudanças que representam um reordenamento da riqueza no país que estava pendente desde a abolição da escravatura, em 1888; e que nossa elite não entende

Do Tijolaço
BBC republica matéria do jornal inglês  “Financial Times” que pode ter lá suas verdades, embora contenha um monte de informações erradas, que não ficam bem a um jornal que se arroga o direito de dar lições econômicas aos países menos desenvolvidos.
Diz que há uma luta entre duas classes médias: a “antiga” e a “moderna, formada pelos  milhões de brasileiros que ascenderam ao mundo do consumo durante o governo Lula.
“O jornal observa que os 33 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza para integrar a nova classe média emergente foram os grandes beneficiados pelas políticas oficiais, enquanto a classe média tradicional considera que a situação no período ficou mais difícil. “Os preços da carne e da gasolina dobraram, pedágios nas estradas subiram e comer fora ou comprar imóveis ficou proibitivamente caro”, lista a reportagem”.
Epa, devagar.
A gasolina subiu, sim, mas está longe de ter dobrado de preço. Era de R$ 2,066, em 2003, segundo pesquisa nacional da ANP, contra 2,759 apurados na última semana. Está cara? Está, mas o aumento, portanto, não é de 100%, mas de cerca de 35%, em oito anos. A inflação no período, medida pelo IPCA, foi de 52,6%, o que aplicado sobre o preço da gasolina em 2003 daria R$ 3,15.
E o preço da carne? A arroba do boi gordo, em dezembro de 2002, segundo o Cepea-USP, custava R$ 57,58. No mês passado, oito anos e meio depois, R$ 97,22.  Aumento de 68,8%, contra uma inflação no período de 78,9%.
Estes são, de fato, dois produtos que subiram muito de preço, mas são apenas dois. O  “FT” poderia chegar a outras conclusões com itens que fazenm parte da cesta de consumo das classes A e B, como importados e viagens internacionais e teria resultados absolutamente inversos.
Os imóveis, inegavelmente, estão caríssimos. Faltou dizer que, entre outras razões, é porque há crédito. Isso fez “bombar” os imóveis para a classe média baixa mas, de maneira nenhuma, reduziu a procura por unidades mais caras. Tanto que os lançamentos e as vendas de imóveis de luxo e voltados para a classe média alta deverão permanecer estáveis em 2011, segundo afirma o Sindicato das Construtoras. Outro dia, aqui, a gente mostrou que, no ano passado,. dos 2316 imóveis  lançados  na cidade de Santos (SP), uma das que mais encareceu, 1268 unidades (55%) eram de valor superior a R$ 500 mil.
Quanto ao preço dos pedágios, é melhor que os leitores de São Paulo comentem de quem a classe média deve ter raiva.
As classes A e B não perderam nada. O próprio Marcelo Nery, citado como fonte pelo Financial Times diz que elas tiveram mesmo um aumento real de 10% em sua renda, em dez anos.
Mas um coisa é correta na matéria. Tem muita gente, elitista, que não se conforma em ver os pobres ascenderem, estudarem, terem acesso a bens e serviços como eles.
É o pessoal da “gente diferenciada”, como aquele lá de Higienópolis, que não queria estação de metrô.
E só quer ver de longe o pesoal da classe C, que teve 68% de aumento na renda, no mesmo período.
E que tem agindo em cima de si, uma imprensa incapaz de ajuda-la a ver que o progresso dos pobres é a única saída para que os mais ricos possam viver em algo que não seja uma selva.
Mas é o próprio professor Neri, no final da matéria, que vai ao centro do problema:
“Na avaliação de Neri ao jornal, as mudanças representam um reordenamento da riqueza no país que estava pendente desde a abolição da escravatura, em 1888.”
Em 2011, tem gente que ainda gostaria de conservar a senzala.

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