Ninguém, em sã consciência, acredita que seja, a esta altura, possível recuperar a candidatura Serra do naufrágio a que está fadada. É partindo desta premissa que se deve analisar o processo político e a ação da mídia tentando sustentar o que, já se percebeu, é insustentável do ponto de vista eleitoral – e este é o foco da política a menos de 30 dias de eleições presidenciais e da ampla maioria do Congresso.
Definido, como parece estar (embora todo cuidado seja pouco) o grande quadro do poder, as lutas políticas começam a se transferir para dentro das forças que travaram o grande embate que se anuncia quase resolvido.
Não é meu papel analisar o que acontece dentro das forças de que faço parte modestíssima, o campo popular. Mas é possível dizer que os dois grandes vitoriosos deste processo – Lula e Dilma – vão chegar ao final dele com uma enorme força política e uma nítida compreensão sobre com quem puderam contar e, certamente, que foram o povão e a nova mídia – a internet – a base e a lança deste combate. Das vacilações e conveniências dos políticos convencionais, o que já conhece há tempos, sabe-se que o apoio vem na enchente e se vai nas dificuldades. E da grande mídia – salvo honrosas exceções – viu-se agora que dela virá apenas ódio e intolerância contra tudo que represente soberania nacional e inclusão do povo como agente da vida brasileira.
O nosso “baronato” da mídia é como a oligarquia do café na primeira metade do século 20: tem horror a tudo o que possa transformar uma sociedade excludente em algo onde ele não seja, por direito, reverenciado e obedecido.
Posso, entretanto, tentar avaliar o que acontece do outro lado. E está claro que se opera uma rearrumação no quadro político. PSDB e DEM vão passar por uma acomodação quase que imediata, após as eleições.
Os tucanos, força mais significativa, vivem já este conflito – de resto, aliás, até anterior às eleições.
A radicalização golpista que se opera na campanha de Serra é sinal deste processo. Os vinte dias restantes serão de silêncio dos que pretendem escapar do desastre e de gritos e esgares daqueles que sentem o chão eleitoral faltar sob seus pés.
Nada mais eloquente, por sinal, do que o estrondoso silêncio de Aécio Neves nesta história.
Quando Serra julgou ter tirado dele a condição de aspirante à “coroa” presidencial, tirou-lhe, de fato, a condição de aliado a ser imolado numa batalha que, agora se vê, é impossível de ser vencida. Não pôde mais deixar-lhe o lugar da imolação, como fez com Alckmin em 2006. Acreditava, como insensível à história que é, que o fenômeno Lula era pessoal e não um realinhamento histórico do povo brasileiro. Logo, não sendo Lula, em pessoa, o adversário, a vitória lhe pareceu, agora, possível.
Quando defenestrou – com métodos que não é pudico narrar aqui – Aécio da disputa, Serra se torno o único proprietário de uma empresa que iria se revelar falida: a oposição a Lula.
Ficou “dono” do PSDB, do DEM, do PPS e das parcelas do PMDB e do PTB que conseguiu cooptar, ligadas a Quércia e Jefferson.
O direito de ser candidato, já no início deste ano, passou a ser um fardo insuportável. Até o último minuto, procurou livrar-se dele, adiando o anúncio de sua candidatura. Olhava em volta, quase suplicava a volta de Aécio. Mas este, claro, já percebera o mesmo e “controlou” a distância entre a solidariedade formal e o desprezo político real a Serra.
A gritaria serrista, agora, assemelha-se ao terrível abraço do afogado: o desespero que faz arrastar à morte todo aquele que lhe estiver próximo. E os que perceberem isso o evitarão, é claro.
O mais provável é que saiamos deste processo eleitoral com um realinhamento partidário que faça se tornarem-se claras semelhanças com o PSD e a UDN. Esta, igualmente surgida de uma soi-disant esquerda, ligada às classes médias urbanas, elitista, formalista e financista, reunirá os frangalhos do tucanato serrista. Aquele, o PSD, com uma relação de convívio com o governo, vai agregar parcelas das oligarquias regionais, acima e além do quadro partidário atual, sob o comando – como é irônica a história – do neto de Tancredo Neves.
Cabe a nós, sem baixar a espada do combate eleitoral um só instante, refletir sobre o realinhamento possível no campo popular. Já o disse antes que Lula o sinalizou ao escolher como sucessora alguém de fora da máquina partidária do PT.
A experiência concreta, o exercício da representação do povo brasileiro, nos fez, a todos, superar preconceitos e simplificações. Praticamos todos a única submissão digna , a única obediência honrosa: curvamo-nos todos de nossa “sapiência” aos desejos do povo brasileiro e ao fio condutor que ele tece em nossa história.
Quem compreende este fio como um rio, que desce em voltas caprichosas, mas sempre procura o mar, sabe bem que a unidade que construímos neste combate não pode e não vai ser transacionada em miudezas. Políticos e partidos populares terão de conservar a grandeza que permitiu ao povo brasileiro chegar ao limiar de uma vitória histórica.
Temos os olhos no futuro e o destino nas mãos
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Temos os olhos no futuro e o destino nas mãos... enquanto eles,
Do Tijolaço.com
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