O paradoxal Twitter
Por Eduardo Guimarães
A rede social Twitter, apesar de vir sendo cada vez mais usada por empresas, jornalistas e até por políticos, abriga um público majoritariamente jovem, de classe média e do Sul-Sudeste, o que explica que alguém antipático como José Serra tenha mais de 600 mil seguidores e que nessa rede social tenha explodido onda de racismo, xenofobia e homofobia, das eleições do ano passado para cá.
O Twitter, aliás, “move-se” através de ondas desencadeadas através do RT, sigla para retwit, ou re-encaminhamento dos twits – o que sejam, cada postagem de cada internauta que pode ou não conter links para blogs e sites.
Através da formação dessas ondas surgiram fenômenos como de centenas de milhares de mensagens pedindo que o narrador esportivo Galvão Bueno caísse fora da Globo ou de algumas dezenas de jovens pedindo o assassinato da presidente Dilma Rousseff no dia de sua posse ou de culpar nordestinos pela vitória dela pregando que fossem “afogados” e outras barbaridades.
Ainda assim, o Twitter constitui excelente ferramenta sobretudo para jornalistas, mas também para pesquisadores de todas as naturezas, pois todos esses que dependem de caçar notícias podem concentrar quantas fontes quiserem em uma mesma página, bastando clicar nos links dos twits para ler o que interessa.
Entre os políticos e celebridades há uma disputa surda por ter mais seguidores, pois quantidade deles virou demonstração de popularidade.
Já entre os cidadãos comuns, seguir e ser seguido, em alguma medida, é troca de gentilezas. Alguns passam a seguir quem julgam que pode pensar parecido usando o recurso “follow” (seguir, em inglês). Não é sempre, mas alguns só passam a seguir esperando ser seguidos. Se não forem, deixam de seguir.
Todavia, assim como as decisões de “seguir” são tomadas ao menor sinal de agrado com a idéia daquela pessoa, o recurso “unfollow” (em tradução livre do inglês, alguma coisa como “deixar de seguir”) é usado de modo singular, pois não é raro que se tome essa decisão por o seguido eventualmente escrever uma simples frase com a qual quem segue não concorde.
O Twitter é extremamente viciante. Algumas pessoas chegam a passar o dia inteiro trocando mensagens freqüentemente um tanto bizarras. Não é raro alguém dizer que está fazendo as unhas enquanto “tuita” ou que está com dor de barriga ou fome. Em boa parte dos casos é no contexto de um chat eventual – coisa que a maioria dos “tuitonautas” abomina – entre duas ou mais pessoas, mas há gente que só escreve coisas assim.
Ao longo dos anos, essa rede social deverá se constituir em um dos mais valiosos instrumentos para a sociologia e até para a psicologia devido às ações e reações que se pode captar através das trocas de mensagens. Nunca antes na história deste mundo houve um chat gigantesco que fica registrado para acesso de qualquer um de qualquer parte, onde se pode ver as relações humanas acontecendo em tempo real.
O Twitter, ao menos no que concerne ao Brasil, também mostra uma situação preocupante no que diz respeito à intolerância com a diferença de pensamento. Desde ondas atacando, difamando e ridicularizando algum alvo até o tão temido “unfollow” são expressões da incapacidade que está permeando a nossa sociedade diante daquilo com o que não se concorda.
A grande característica do ato de “seguir” ou não alguém no Twitter é a de apreciar ou não aquela pessoa ou instituição e suas idéias, o que vira critério para usar os recursos “follow” e “unfollow” quando o critério deveria ser o da relevância que cada um vê em seguir este ou aquele perfil.
Por exemplo: você pode não concordar com as idéias de José Serra, mas é um ator relevante e influente no cenário político e, assim, é preciso segui-lo, pois o que diz não só acaba virando notícia como pode ter implicações políticas que quem quer estar informado deve conhecer. O mesmo vale para qualquer outra pessoa relevante, seja da política ou de qualquer outra área.
Ao menos em termos de Brasil, não é o que acontece no Twitter. Assusta a rejeição que grassa nessa rede social às idéias divergentes e assusta a exposição do lado obscuro de uma “juventude dourada” que acalenta preconceitos dignos de neonazistas e posições ideológicas que fariam qualquer ditador sentir-se uma Madre Tereza de Calcutá.
Paradoxalmente, um real sentimento de solidariedade também grassa no Twitter. Se alguém precisa de alguma informação ou ajuda para divulgação de mensagens de caráter humanitário, por exemplo, não é difícil que seja apoiado em larga escala e rapidamente. Pergunta-se alguma coisa à rede de contatos e um vai repassando ao outro e em pouco tempo a informação aparece.
Contraditório, veloz, intrigante, revolucionário, algo assustador e paradoxalmente promissor… O Twitter é tudo isso e muito mais. Estou por lá, inclusive. Meu perfil no microblog é @eduguim .
Nenhum comentário:
Postar um comentário