terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Luis Nassif: o curioso jogo político

Do Portal Luis Nassif

Olhando retrospectivamente o jogo político

É curioso comparar o quadro político atual – o resultado final do jogo – com o que ocorreu no campeonato político nos últimos anos.

Primeiro, os prováveis resultados finais do jogo:

1. Como cantou há dois anos José Sarney, há um movimento da oposição em direção à base governista. De tal maneira que nas próximas eleições a nova oposição sairá da base do governo – repetindo o fenômeno PSD-PTB do governo Vargas. A nova oposição será Eduardo Campos, talvez um Aécio.

2. É risível a maneira como a velha mídia tenta contrapor Dilma Rousseff a Lula, enfatizando a diferença de estilo. É uma maneira escapista de recuar andando de costas, para passar a impressão que está andando para frente. Hoje se tem a parte mais preconceituosa e desinformada do antilulismo tecendo loas à lulista Dilma. E, pior, acreditando que semearão a cizânia entre ambos.

3. Gilberto Kassab pulou fora do barco do Serra – e levou o barco junto. Em breve engrossará a base do governo, assim como o provável candidato de Alckmin, Gabriel Chalita.

4. Náufrago, Serra tenta entrar em qualquer barco, até no de Geraldo Alckmin. Deixa escapar que sua implicância com Aécio é maior do que a com Alckmin – mas a implicância de ambos com Serra é de teor idêntico. Serra ficará a ver navios. Enquanto isto, Aécio tem Minas, a bancada do PSDB no Congresso e, na hora em que quiser, o partido.

O campeonato

Vamos a alguns momentos importantes desse campeonato.

O primeiro episódio foi nas eleições de 2008 para prefeito. Em Minas, Aécio costurava uma aliança imbatível com Pimentel e Márcio Lacerda; em São Paulo, Serra rifava o maior nome do partido, Geraldo Alckmin, em favor de Kassab.

Na época passei por Belo Horizonte e almocei com velhas raposas mineiras, entre elas alguns conselheiros de Aécio. Foi um papo mineiro divertidíssimo:

- Sabemos que Serra é muito preparado – me dizia um deles. Esse lance do Kassab deve ter uma grande estratégia por trás, tão complexa que não conseguimos entender seu alcance.

Disse-lhes para ficarem tranqüilos: tinha cheiro de besteira, jeito de besteira. E era besteira.

Os dois episódios – Aécio com Pimentel, Serra com Kassab – definiram o futuro político de ambos, o resultado do jogo.

Imediatamente após as eleições, Aécio acenou para Alckmin obrigando Serra a uma baita retirada, entregando a Agência de Desenvolvimento para o adversário e, a partir daí, perdendo o controle sobre a sucessão estadual. E, mesmo assim, deixando em Alckmin mágoas ireeversíveis.

O que diziam os analistas políticos em 2008?

Dora Kramer, 25/04/2008

No lance do acordo com o PMDB, o governador paulista José Serra foi mineiro. Trabalhou em silêncio, num primeiro momento simulando-se conformado com o cenário das candidaturas de Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin a prefeito de São Paulo.

(...) Seria possível dizer que, aqui, o mineiro Aécio Neves fez política à moda paulista - com muito esforço braçal e pouca sutileza mental -, não fosse a sensação de que seu apoio explícito a Alckmin, embora risonho, talvez não seja assim tão franco. Ou firme o bastante para levá-lo a patrocinar a resistência.

(...)Agora, a aliança visa a levar Geraldo Alckmin a ''tomar a iniciativa'' de desistir da candidatura e aceitar concorrer ao governo de São Paulo em 2010, tornando-se compulsoriamente um adepto da candidatura Serra à Presidência.

O governador não poderá ser ''acusado'' de nada. Para todos os efeitos, atuou para conquistar um parceiro poderoso para a candidatura de sua predileção. Alckmin, se quiser, pode comprar a briga, mas terá de fazê-lo com menos tempo de televisão e sem o apoio das máquinas estadual e municipal.

(...) E para que serve essa constatação? Para demonstrar que Serra está em ritmo de trabalho intenso para se eleger presidente, e quando quer, derruba até o próprio mito. No caso, o de político desastrado.

Depois, o longo período em que Serra foi apresentado como gestor impecável, estrategista implacável e Dilma como poste. Era poste na campanha e seria uma mera conduzida se eleita.

Conclusão: Lula, de fato, é um político habilidoso. Mas a incapacidade crônica de seus críticos facilitou sua vida de forma ampla.

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