Crescimento da produção industrial surpreende
- O Estado de S.Paulo
A divulgação dos dados da produção industrial de fevereiro trouxe uma surpresa: com aumento de 1,9% (com ajuste fiscal), ela superou as mais otimistas previsões, ao mesmo tempo que desarmava o alarme das autoridades monetárias nas suas previsões de inflação, sinalizando que a indústria acredita na robustez do consumo.
A produção industrial acumulada nos dois primeiros meses apresentou crescimento de 4,6% e, nos últimos 12 meses, de 8,6%, o que pode pôr em xeque a estimativa do Relatório de Inflação de um crescimento do PIB de 4%, valor que poderia ser superado com as implicações que isso acarreta sobre a curva da inflação.
A produção de bens de capital apresentou crescimento de 0,9%, com ajuste sazonal, e de 17%, em relação a fevereiro de 2010. Isso significa que a indústria continua a investir, prevendo aumento da demanda. Esses investimentos já realizados explicam que a produção de intermediários tenha tido o maior crescimento (1,7%) concentrado nos alimentos (efeito da safra agrícola), mas também em peças de bens de capital, o que é altamente positivo.
Os bens de consumo duráveis acusam, com dados dessazonalizados, recuo de 2,3%, apesar de um crescimento de 4,7% no caso dos veículos automotores, o que parece indicar que a indústria não está acreditando muito nos efeitos da política de restrição do crédito. Em compensação, a queda de produção desses bens se vincula à importação favorecida pela nova onda de desvalorização do real ante o dólar.
A produção de bens de consumo não duráveis ou semiduráveis caiu (com ajuste sazonal) 0,2%, mas em relação ao mesmo mês do ano passado cresceu 3,6%, o que mostra que a melhoria dos rendimentos permitiu um alto nível de consumo.
Os dados da produção industrial merecem reflexão das autoridades: o setor não acredita numa queda da demanda, pois continua a investir e aumentar a oferta de bens intermediários. Isso permite manter relativamente estável a utilização da capacidade de produção. Mas a indústria aposta na manutenção de uma tendência crescente do consumo, aceitando recorrer à importação para os bens de consumo duráveis, que, com a valorização do real, têm preços muito baixos no exterior. A indústria extrativa continua sua expansão estimulada pela evolução dos preços das commodities.
É possível que os dados da produção industrial tenham sido favorecidos pelo efeito calendário, com mais dias úteis do que fevereiro de 2010. Porém, o importante é que a demanda doméstica continua robusta.
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