Foi bom pra você, direita midiática?
Por Eduardo Guimarães
Durante anos (entre 2003 e 2010), este país viveu confrontos políticos entre o governo federal, de um lado, e a grande imprensa e a oposição do outro que chegaram a fazer o país temer que acabassem em uma guerra civil ou em (outro) golpe de Estado.
Para se ter uma idéia do nível de virulência que a direita midiática empreendeu na tentativa de voltar ao poder, supostos jornalistas chegaram a escrever livros sobre o ex-presidente Lula e seu partido que, mais do que difamar, pretendiam meramente insultar.
Os títulos desses livros dão bem a dimensão do clima político que vigeu durante anos: “O país dos petralhas” e “Lula é minha anta”, de autoria, respectivamente, dos colunistas da revista Veja Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.
A Veja foi um capítulo à parte. Durante pelo menos seis anos, toda semana trazia um “grande escândalo” do juízo final contra o governo Lula, que, daquela vez, derrubaria aquele governo.
O site da Agência Reuters, perto da eleição presidencial do ano passado, publicou alentada matéria que explica bem a guerra que a grande imprensa declarara ao governo. Vale a pena este texto reproduzir um trecho antes de prosseguir.
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Agência Reuters Brasil
Revista pode ser o último obstáculo para vitória de Dilma
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Por Stuart Grudgings
RIO DE JANEIRO (Reuters) – Já se tornou um ritual nas manhãs de sábado durante a atual corrida presidencial — funcionários dos partidos e jornalistas correm às bancas para verem se, desta vez, a edição da revista Veja derruba a candidata Dilma Rousseff (PT).
Com sua capacidade para fazer ataques, a revista mais lida do Brasil –que já divulgou dois escândalos de corrupção que afetaram Dilma– parece ser o último grande trunfo da oposição, numa disputa em que a candidata governista chega à penúltima semana ampliando sua vantagem na dianteira das pesquisas.
Alguns analistas políticos descrevem a corrida em termos de quantas capas da Veja faltam para a eleição: duas.
A incansável campanha da publicação contra Dilma é um sinal daquilo que alguns dizem ser uma profunda tendência da mídia brasileira contra o PT e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro presidente brasileiro egresso da classe operária.
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Outros grandes meios de comunicação não fizeram por menos. Distorceram, omitiram, falsificaram, inventaram tudo o que puderam para recolocar a oposição demo-tucana no poder.
A Folha de São Paulo, por exemplo, chegou a publicar, na primeira página, uma falsificação de ficha policial com pesadas acusações contra a hoje presidente Dilma Rousseff, e a acusar o ex-presidente Lula até de maníaco sexual e assassino.
Para citar todos os ataques, haveria que escrever um livro. Devido à diferença do alcance das comunicações, nem Getúlio Vargas, levado ao suicídio pelos mesmos veículos que agora fustigavam Lula, sofreu campanha de desmoralização igual.
O resultado de tudo isso ainda está sendo conhecido. Apesar de os brasileiros terem dado uma sobrevida à direita midiática votando em vários de seus candidatos a governador, praticamente a exilaram do cenário federal.
No Congresso, a oposição encolheu pelo voto popular. Encolheu muito. O recado das urnas foi claro: a esmagadora maioria dos brasileiros desaprovou a campanha que esses jornais, revistas, tevês, rádios e portais de internet fizeram contra o governo Lula.
Não é difícil encontrar quem diga que tentaram sabotar o governo anterior. Milhões de brasileiros parecem achar que foram prejudicados pela aliança entre esses meios de comunicação e o PSDB, o DEM e o PPS. E foram.
O Poder Legislativo, no total, deve ter perdido mais da metade dos últimos oito anos atuando como instância policial contra o governo do país, enredado em dezenas de CPIs que a nada chegaram e que paralisaram a apreciação de matérias de interesse nacional.
Neste sábado, um dos colunistas de um dos veículos mais beligerantes e que deu sua imensa contribuição para a guerra política dos últimos anos constata, mergulhado na amargura, o resumo da ópera que ajudou a escrever. A leitura desse texto é obrigatória.
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FOLHA DE SÃO PAULO
23 de abril de 2011
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Pelada em praça pública
SÃO PAULO – Roupa suja se lava em casa. Sim, mas a oposição já não tem roupa, está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise em praça pública. Perdeu, literalmente, a vergonha de mostrar seus vexames.
A nudez é tanto do DEM quanto do PSDB. Anteontem, no jornal “O Globo”, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) desafiava: “Que os coveiros fracassados sigam o caminho adesista e de traição. As urnas darão a resposta!”. Referia-se ao tesoureiro do partido, Saulo Queiróz, de saída para o PSD de Gilberto Kassab, e ia além: “O Saulo é um cão fila do Jorge Bornhausen, que está agindo nos bastidores para minar o partido”.
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, deve trocar o DEM pelo PSD.
No “Painel” da Folha de ontem, o senador tucano Aloysio Nunes dizia o seguinte: “Stalin bania os inimigos para se manter no poder. O PSDB agora extermina seus amigos para se manter na oposição”.
Atacava o grupo alckmista, acusado de segregar vereadores simpáticos a Serra-Kassab, seis dos quais debandaram do ninho piando alto contra a turma do governador.
O PSD pode ter sido o deflagrador imediato dessa crise, mas o partido de ocasião do prefeito é muito mais um sintoma da fragilidade da oposição do que a sua causa.
É irônico que essas cenas de desinteligência explícita venham logo na sequência do artigo em que FHC se esforçava para dar um sentido programático, estratégico e coletivo à ação do PSDB.
A palavra de ordem mostra-se impotente e vazia diante do clima de “cada um por si” que toma conta dos tucanos, do DEM, dos dissidentes, da oposição. Kassab virou líder do Partido Salve-se quem Puder.
A fusão dos cacos do PSDB com o que restou do DEM entrou na roda de conversas. Mas, por ora, as reações contrárias de lado a lado à formação desse novo-velho partido parecem mais fortes.
O movimento da oposição não é mesmo de fusão nem de união, mas de dissolução, de esfarelamento.
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