VIA CONTEÚDO LIVRE
Comendo pelas beiradas - Raquel Ulhôa
Depois dos feriados da Semana Santa, o advogado Admar Gonzaga, que atuou na campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff, vai entregar o pedido de registro do Partido Social Democrático (PSD) no Cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Brasília. Será provavelmente dia 25, segunda-feira.
O partido nasce sob a presidência do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e deverá ter como secretário-geral o experiente ex-deputado Saulo Queiroz, que ocupou o mesmo cargo no extinto PFL, foi primeiro secretário do PSDB e, recentemente, vinha ocupando o cargo de tesoureiro do DEM. A carta comunicando a saída ainda não foi entregue ao presidente do DEM, senador José Agripino (RN), que está no exterior.
Político ligado ao ex-presidente do PFL, Jorge Bornhausen, Saulo migra para o PSD com a tarefa de ajudar a organizar o novo partido no país todo, não só nas grandes e médias cidades, para que a sigla tenha o melhor desempenho possível nas eleições municipais.
A estratégia é levar o partido ao maior número de cidades pequenas. "Minha cabeça está voltada para isso: capilaridade. Partido se faz com capilaridade. Nossa preocupação é fazer o partido chegar a todas as cidades", diz Saulo.
Os fundadores do PSD trabalham com o objetivo de chegar às eleições municipais de 2012 com pelo menos 1.500 candidatos a prefeito. O prazo é curto. A lei eleitoral exige que os candidatos estejam filiados pelo menos há um ano da eleição, no partido pelo qual pretendem disputar a eleição, ou seja, até setembro de 2011 para quem vai concorrer em 2012.
O partido não quer ficar preso à exigência legal (assinatura de pelo menos 101 eleitores com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados). Procuram-se comandantes em todos os Estados. Segundo fundadores da legenda, em 20 Estados o PSD já tem comando.
É o caso - além de Kassab, em São Paulo - do Amazonas, com o governador Osmar Aziz, que sai do PMN; da Bahia, com o vice-governador, Otto Alencar, que deixa o PP; e do Tocantins, com a senadora Kátia Abreu, até então no DEM. Até setembro, o partido quer ter uma liderança forte em cada Estado, para que ele tente fincar as raízes da sigla nas corruptelas.
Nas discussões iniciais, os "pessedistas" avaliam que o PT, apesar de todo o discurso voltado para as massas e para a população carente, demorou a se organizar em cidades pequenas e firmou-se como um partido de grandes e médias cidades.
Em 2008, já depois de seis anos de governo Lula, o PT conseguiu eleger 549 prefeitos - foi um salto em relação a 2004, quando elegeu 399, mas ficou atrás do PMDB (1.201, um pouco mais do que os 1.054 eleitos quatro anos antes), do PSDB (785, menos do que em 2004, quando conquistou 861 prefeituras) e do PP (549 eleitos, praticamente o mesmo número que em 2004).
A intenção dos dirigentes era providenciar o registro do novo partido nesta quarta-feira, mas seus fundadores decidiram aguardar alguns dias, na expectativa de receber mais assinaturas. Há, segundo eles, uma "avalanche" de interessados.
"Enquanto as pessoas vão passear, nós vamos trabalhar no feriado", diz um dos idealizadores da legenda. A previsão é de entregar o pedido de registro com 38 a 39 deputados federais, mas há uma expectativa de esse número chegar a 50 nos próximos meses.
A sigla está atraindo políticos da oposição que estão desconfortáveis em seus partidos, por questões locais ou por cansaço de ser oposição. Mas está recebendo também gente da base governista, estimulada pelo ministro Antonio Palocci (Casa Civil).
Fundadores do novo partido esperam a adesão do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo - cuja eventual saída do DEM deixaria a legenda com apenas uma governadora, Rosalba Ciarlini, do Rio Grande do Norte. Por enquanto, o PSD surge com o prefeito da maior cidade do país, um governador (AM), dois senadores, cerca de 36 ou 37 deputados federais e um número crescente de deputados estaduais e vereadores.
Apesar do estrago que o novo partido vem causando na oposição - especialmente no DEM e no PPS, mas atingindo aos poucos o PSDB -, seus fundadores negam que o PSD nasça para "prestar serviço" ao Palácio do Planalto. Por outro lado, admitem que a intenção é não ter conflitos com o governo.
A falta de clareza na posição interessa a muita gente: a legenda está se tornando opção para políticos cansados de ficar na oposição, mas também para outros que são da base aliada de Dilma, mas querem trocar de partido por problemas locais.
Dos 37 deputados que já haviam confirmado a ida para o novo partido até ontem, segundo dirigentes, 12 estão saindo de partidos de oposição (nove do DEM e três do PPS). Dos dois senadores, um é da base: Sérgio Petecão (AC), que deixa o PMN. A outra é Kátia Abreu (TO) - politicamente ligada a Bornhausen, como Kassab e Saulo -, que sai do DEM.
Os idealizadores do novo partido nem se esforçam para localizar o PSD no espectro político. Nem esquerda nem direita, porque, segundo eles, essa definição "é uma coisa totalmente superada". O objetivo é ter uma "visão moderna" do país, baseada na avaliação da necessidade de gerar riqueza para que o país avance socialmente.
O comando do PSD tem questões práticas com as quais se preocupar, como, por exemplo, como arcar com as despesas, enquanto não participa do bolo do fundo partidário. Como única fonte revelada, surge a possibilidade de uma doação de cerca de R$ 400 de cada um dos cerca de 40 parlamentares. Segundo cálculos, os R$ 16 mil mensais no mínimo são considerados suficientes para arcar com cerca de 70% a 80% das "modestas" despesas, como o aluguel de sua primeira sede, uma sala em Brasília.
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